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sábado, 26 de janeiro de 2008

FÉ QUEBRADA

Guardo a Tua alma nas minhas mãos
Que não abro, apenas escondo,
E quando abro as páginas do Teu nome
Sopro-as uma a uma,
Com a tempestade da urgência do desejo
De Te descobrir à luz do meu dia.
Espalham-se todas as lógicas do mundo
À Tua eterna passagem,
Tropeçando nas janelas abertas
De todos os corações que Te vêm receber.
Não Te conhecem mas desejam-Te.
Não Te vêem mas adivinham-Te.
Não Te acreditam
Crendo, no entanto,
Que não acreditar em algo
Não é ser-se humano.
Aprendem uma história qualquer
Nas armadilhas do Tempo
E seguram-na à memória
Através de espinhos de pó e de barro.
Eis um Homem.
Enganando-se a si mesmo.
Conta-se o dia-a-dia
Na cruz que se pregou à alma
E na ausência de pregos
Usam-se as palavras.
No eclipse do Teu corpo
Ajusto a visão da minha fé:
Cega e desesperada.
Não compro. Não vendo.
Observo. Aprendo.
A duvidar.

domingo, 20 de janeiro de 2008

...NÃO SE VÊ...

- Vi-a ontem de madrugada.
- Não vi.
- Fria, escura, nua e calada. Rainha Cinzenta. Encostada a cada esquina onde se perdia a realidade. Um passo à frente era igual a um passo atrás. Por isso, não caminhava. Deambulava. Os passos presos eram pregos na alma: se sofria não dizia; se sorria não mostrava.
- Não vi.

- Vi-a hoje de manhãzinha.
- Não vi.
- Tímida, desperta, inquieta e deslumbrada. Rainha Prata. Fantasma solto da sua estátua que se dissolvia ao nascer do sol. Um rasto. Passos quentes e suaves, como quem não quer acordar aquele que dorme em si mesmo. Porque tem medo do mundo lá fora. Porque não sabe como é que ele acaba.
- Não vi.



- Vi-a hoje, ao entardecer.
- Não vi.
- Plena, solta, destemida e transformada. Rainha Vermelha. Incendiava os olhares de papel ao sabor das suas palavras. Nascendo sóis atrás das suas pegadas, marcadas a fogo enquanto caminhava sobre a nossa consciência. Recolhia as cinzas no seu corpo, desenhando os destinos queimados no horizonte da Vida.
- Não vi.



- Vi-a há pouco, agora que anoiteceu.
- Não vi.

- De certeza?
- Não vi.
- Cruel. Determinada…a Tempo e a Horas. Rainha Negra. Trago o finito da tua existência contemplado no infinito da tua alma. Pago o teu último sopro com palavras envenenadas e recebo como troco as tuas memórias passadas. Colecciono-as como fotografias apagadas do que nunca poderei ser. Recorto a tua vida para mim e vivo-a, eu, agora, intensamente, em apenas num instante. Saboreio-a e faz de conta…



- Nunca te vi.
- Quem só me vê agora…acorda tarde demais para a VIDA.


XXX


E em jeito de nota, com mais valor do que uma simples nota, acrescenta-se mais um fio neste post da Teia...dedicado ao dia de hoje: 22 de Janeiro...em que o matchbox30 comemora o seu aniversário.
Que todas as cores das palavras e do mundo brilhem dentro dele, fazendo dele uma das pessoas mais felizes do mundo.
Amigo, uma paleta de cores brilhantes em tudo o que faças e em tudo o que venha do mundo à tua volta para ti...e que todos os teus amanheceres tenham a beleza poética à qual tu assististe hoje bem cedinho, de modo a transformar sempre o teu dia num único e belo DIA.
MUITOS PARABÉNS aqui da TEIA.
Correcção: O dia de aniversário do matchbox30 foi ontem: dia 21! Os fios da Teia muitas vezes baralham-se! Sorry! Mas os votos valem na mesma!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

SONHOS E PRÉMIOS...cinema e mimos!

O SONHO DE CASSANDRA
Título original: Cassandra`s Dream
Realização: Woody Allen
Intérpretes: Ewan McGregor, Colin Farrell, Tom Wilkinson, Sally Hawkins, Hayley Atwell
Estados Unidos/Grã-Bretanha, 2007

Quem não gosta de ver a sua vida encaminhada da melhor forma? Até onde vai a ambição do ser humano?
Esta é a história de dois irmãos que, desde o início, se apresentam um como sendo o intelectual e o outro como o musculado da família. Ambos querem deixar para trás uma vida de classe média baixa inglesa e subir na vida. Um aposta nas diversas vertentes do jogo, acabando por se aperceber que se torna uma doença; outro decide apostar em investimentos e negócios de alto risco. Pelo caminho deste processo, surge uma actriz pela qual um dos irmãos se apaixona e que o faz tornar-se, ainda mais, ambicioso, fingindo ser uma pessoa que não é de modo a agradar à sua actriz. A forma de resolver os problemas que vão surgir e, de algum modo, concretizar os sonhos de ambos, é aceder prestar um favor ao tio de ambos, um médico milionário, que lhes pede, em troca, a concretização de um crime.
Não existe musa “fétiche” neste filme de Woody Allen (ao contrário do que vinha sendo feito!); a acção concentra-se na brilhante interpretação de Colin Farrell que representa uma personagem doente e viciada no jogo e no álcool, em constante luta consigo mesmo, a partir do momento em que actua contra os seus princípios.
Um filme com uma estrutura fiel às tragédias gregas clássicas, em que o crime e castigo surgem ao lado de um certo conceito de film noir, para traduzir de um modo simples os grandes dramas humanos e consequentes dilemas morais. A água é um fio condutor que surge, no início do filme, como um dos meios para concretizar a felicidade dos dois irmãos quando compram o seu pequeno veleiro, ao qual dão o nome de Sonho de Cassandra. O mesmo termina também no mar e o sentimento que rodeia este veleiro já não é o da felicidade…
Banda sonora excelentemente a cargo de Phillip Glass.

PRÉMIOS E NOMEAÇÕES
A Teia recebeu alguns prémios e, deste modo, para dar continuidade à passagem do testemunho, vou distribui-los, tentando cumprir, quase à risca, as suas regras! Assim, a marias do blog Amor Infinito e a papoila do blog A Papoila atribuíram-me o Prémio Escritores da Liberdade. A Teia sempre seguiu este conceito de escrita livre, quase ao sabor da corrente dos sentimentos, pensamentos e situações, procurando dar vazão aos imensos temas livres e temas que apelam à liberdade da escrita (e moral!). Assim, é regra deste prémio nomear mais dez bloguistas:


Do Filipe Oliveira e da Papoila recebi o prémio É um blog muito bom, sim senhora! E da Papoila recebi, também, o prémio Eu tenho um blog de elite! Para estes dois últimos prémios tenho de, para além de dar indicação de quem os atribuiu, indicar mais outros sete blogs.

Assim, para É UM BLOG MUITO BOM; SIM SENHORA!:

Marias

E para o prémio EU TENHO UM BLOG DE ELITE! os nomeados são:Universo e Borboletas
Entre Telas e Pincéis
Mixtu
Impulsos

Som do Silêncio
alice

Taliesin


A mimo-te deixou um miminho para a Teia que faz uma homenagem aos amigos que se criam aqui nestas andanças virtuais. E este prémio, aqui sim, fugindo mesmo à regra, eu deixo-o atribuído a todos que por aqui passam pela Teia, sem excepção! Não há maior atenção e cuidado do que o Tempo que disponibilizamos uns aos outros, sem compromissos e "cobranças", apenas por gosto e afinidades. Para todos vocês!
Tentei fazer uma distribuição por cada um dos blogs que visito, e um prémio por cada um, de um modo aleatório. Ficaram mais blogs por nomear…mas não se considerem de fora. Assim que entrarem neste post também os podem levar (aqui está a fuga à regrabem no final…).

Vocês é que são todos de ELITE!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

TEIA DE ARIANA, by AZER MANTESSA

Só há pouco tempo é que comecei a "reparar" na chamada Arte Gráfica, gerada pelo computador e através de fórmulas matemáticas. Graficamente, resultam padrões de cores intensas e formas abstractas que se tornam bastante atractivos e únicos, para quem aprecia este género de arte; mais uma forma de expressão do que nos vai cá dentro.
O Azer Mantessa é um artista que não só concretiza estes trabalhos gráficos, como também compõe e interpreta os seus próprios temas musicais.
Há uns meses atrás, ele decidiu homenagear a Teia dedicando-lhe uma composição gráfica e uma composição musical; ambas podem ser apreciadas em:
* Halusi Matematika e em *Muzika Mantessa (aqui podem ouvir a música que compôs, também).
TEIA DE ARIANA, by AZER MANTESSA
Pedi-lhe uma espécie de explicitação do modo como desenvolveu e concretizou esta sua composição; para além disso, Azer acrescentou o significado que atribuiu ao padrão que intitulou TEIA DE ARIANA ... tudo é passível de uma certa subjectividade.
Assim, para quem quiser ir aprendendo os "truques" desta arte:
The Spider's Web
This pattern is seen as the blue phi ratio structure with a radial webby like-structure.
It is calculated under formula C°=Z°: Z2=Fn1(Z); Z=Sin(Z)-C; C=1/(50*Z2) which is a mathematical polinomial set 3. The parameter has only a function CATan. Filter properties used are Weights I with a filter limit of 0.02 . Transformational calculations are set to be normal.
Coordinates of this pattern are set at:
X = -2.40000009536743164
Y = 2.40000009536743164
W = 4.80000019073486328
For the coloring, maximum iteration is set at 70.0.
This pattern is rotated at 90 degree.
Mathematical bailout is set at 2.
The Desire Within
This pattern is calculated to be the background of 'The Spider's Web' and seen with a strong crystallized warming colors of red, white, blue and green.
It is calculated under formula Z=Fn1(Z); Z=Z*Z + Z + Fn2(C) which is a mathematical Optimized 3. The parameter has only two mathematical functions which are CLog and CLdent. Filter properties used are Stalks-2 (II) with a filter limit of 0.12 which is totally filtered. Transformational calculations are set with another mathematical formula: Sin + Sin Cos + Sin.
Coordinates of this pattern are set at:
X = -16.2890706738900014
Y = -5.25914951673642938
W = 4.80000019073486328
For the coloring, maximum iteration is set at 114.0
This pattern is rotated at 270 degree.
Mathematical bailout is set at inverted 150."

E agora a sua interpretação deste padrão, também pelas suas próprias palavras:
"My personal interpretations of Pattern 'Teia de Ariana'
As 'The Desire Within' is represented by a crystallized structure, I guess it means Pure and Strength. However, the reddish warming colors of the crystals do represent a burning desire yet to be released. As 'Teia de Ariana' prefers purity to be remained, the crystals are protected by the 'The Spider's Web' which has strengths in two ways (1) The structure of the web itself and (2) the structure of the phi ratio (any structure in the universe built upon the phi ratio is strong).
So protect the purity of the crystals or else ... "

...ou então?!...
Escusado será dizer que adorei uma homenagem destas à Teia. Outra forma de arte a par e passo das letras, com a sua própria poesia de um modo muito especial. Associei a este padrão um poema que escrevi há já alguns anos...

ONDAS DE LUZ

Ondas de luz
Que se desenrolam
Do teu corpo
Nos meus dedos
Anéis que brincam;
São estrelas na areia
Que guiam.
Conhecer-te,
Mesmo esse eco
Que se disfarça
De distância,
Toca este olhar
Que (me)
Te lembra.
E
Quando as ondas
Te trazem
No vaivém do Tempo
Construo castelos
Para
Te eternizar,
Numa realidade
Com um final feliz.
Assim o diz
Aquele velho búzio
Que escutamos.
Palavras marmóreas
Que fluem dos anos.
Que falam das estrelas
- Sedentas de brilhar
Caminhantes de um tempo:
Aquele
Em que se dão as mãos.
Convergindo
Para o mesmo encontro:
Nós.

Susana Júlio, in Riscos que ficaram no Tempo/ Jogo de Espelhos, Editora Som da Tinta

Mais uma vez, Azer, muito obrigado pela tua atenção e por este presente fantástico que ofereceste à Teia. Os meus parabéns pela forma como expressas a arte que vai aí dentro de ti. Que a desenvolvas e lhe dês sempre o lugar certo neste nosso Universo, como cada um de nós tem o seu cantinho: "You are a child of the Universe, no less than the trees and the stars; you have a right to be here. And whether or not it is clear to you, no doubt the universe is unfolding as it should be. This is The Desiderata. Order of Life? Yes, it is." (Azer Mantessa).

Thanks!

sábado, 12 de janeiro de 2008

UNIVERSO A QUATRO MÃOS...

...desta vez, é a Teia presa nas palavras do Taliesin e faz eco da sua escrita, com os seus próprios fios...
Assim, primeiro ficamos com o poema O UNIVERSO DA TUA PELE, do Taliesin, e depois o eco da Teia com O UNIVERSO SOMOS NÓS.

O UNIVERSO DA TUA PELE
Percorro as tuas luzes,
E entrego-me à glória de te acariciar,
Tuas mãos doces,
Teu corpo, que ao tocar,
Faz o meu vibrar,
Afastando as sombras que envolviam
A aurora.
Teus olhos despertam-me para a vida,
Profundos, belos…uma obra de arte,
Como viver sem ti?
Como respirar sem te tocar?
Fundido nos teus braços,
Sinto-me seguro,
E no universo da tua pele,
És a minha vida AMOR,
É um privilégio divino,
Viver para te AMAR.

Taliesin, in The Spiral

O UNIVERSO SOMOS NÓS
Percorro o teu brilho à velocidade da luz,
E entrego-me ao infinito de te envolver em mim,
Teu rosto como universo desvendado,
Teus olhos como estrelas de desejos,
Fazendo a minha alma encontrar-se
Com o segredo Original da sua existência.
Tua pele desperta-me para todos os sentidos da Vida,
Via Láctea luminosa e profunda na qual me perco,
Como não encontrar um caminho em ti?
Como não querer partir para ti?
Escondo-me no teu abraço,
Sente-se segura a minha alma na tua,
E na mistura das suas próprias essências,
És as asas que outrora perdi,
No voo da busca do Amor Perfeito,
Agora que renasci
Sei que vou
Viver para te AMAR.


xxx

... e qual é a medida do Universo em cada um de nós?!...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O QUE É QUE SE PASSA AÍ EMBAIXO?!

Não sei o que se passa aí embaixo
Para além da Vida que supostamente acontece
Das pessoas que se cruzam insistentemente
Sem se verem realmente
Das palavras que se atiram
Como gestos de pedra
Para além dos falsos sinais
Que dão luz verde ao conflito
Para além dos apressados
Que esgotam o Tempo sem o terem
Dos muros altos de olhares
Que vestem a alma de cada um
Para além das vozes surdas
Que caem como anjos estilhaçados
Após conhecerem o fruto proibido
Para além disto tudo
Não sei o que se passa aí embaixo.
Mas vou ficar por aqui.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

ÁTIA

Depois de algum tempo alimentando uma gata de rua...na rua... uma das decisões de Ano Novo, foi dar um lar a esta amiga. Trouxe-a, à experiência,para casa para ver como se adaptava a tudo, especialmente com o Sky. Espanto dos espantos...parece que esteve sempre aqui em casa!
Há-de ir à consulta do veterinário para ficar com tudo em dia e saber-se com mais precisão a idade dela...mas deve andar à volta de um ano.
Adora dormir, brincar e provocar o Sky, puxar-me o cabelo, trepar a árvore de Natal, é vaidosa ao extremo assim como asseada, e carícias..só algumas enquanto ela quiser! Temperamental mas meiga!
E chama-se Átia!



E já agora, sabem qual é o significado do nome dela e quem o usou?!

domingo, 6 de janeiro de 2008

O QUARTO REI MAGO

Há quem diga que hoje se "encerram as portas" ao Natal, arrumando as decorações da época nos cantos escondidos onde permanecem por mais um ano, à espera do fulgor da próxima festividade. Gosto tanto destas decorações tão acolhedoras e brilhantes que lamento sempre este acto de arrumação (não que tenha alguma coisa contra as arrumações!).
Contudo, hoje é Dia dos Reis e, tradicionalmente, seria hoje que se trocavam as prendas, elaboravam-se doces e pratos típicos e conviviam, de novo, as famílias. Ainda há quem o faça e este seja o momento alto destas festividades.
Quem são estes Três Reis (para além daquelas figurinhas de barro pintadas que serpenteiam nos nossos presépios...ou o nome do daquele excelente filme de 1999, no qual entra, entre outros, o George Clooney..."What else?")?!
Há uma descrição feita por São Beda, o Venerável (673-735), que no seu tratado “Excerpta et Colletanea” assim relata: “Melchior era velho de setenta anos, de cabelos e barbas brancas, tendo partido de Ur, terra dos Caldeus. Gaspar era moço, de vinte anos, robusto e partira de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio. E Baltasar era mouro, de barba cerrada e com quarenta anos, partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz”. Quanto a seus nomes, Gaspar significa “Aquele que vai inspeccionar”, Melquior quer dizer: “Meu Rei é Luz”, e Baltazar se traduz por “Deus manifesta o Rei”. Como se pretendia dizer que representavam os reis de todo o mundo, representando as três raças humanas existentes, em idades diferentes. Assim, Melquior entregou-Lhe ouro (presente próprio de um rei) em reconhecimento da realeza; Gaspar, incenso (sinal de espiritualidade) em reconhecimento da divindade; e Baltazar, mirra (sinal de imortalidade) em reconhecimento da humanidade. A exegese vê na chegada dos reis magos o cumprimento da profecia contida no Livro dos Salmos (Sl. 71, 11): “Os reis de toda a terra hão de adorá-Lo”.
Supõe-se que os seus restos mortais estão numa urna de ouro, na Catedral de Colônia, na Alemanha.


E o quarto Rei Mago?! Conheciam?!
Segundo uma antiga tradição cristã e em alguns textos primitivos e apócrifos, existia um quarto Rei Mago: Taor. Michel Tournier fala da história deste Taor no seu belíssimo livro: "Gaspar, Melchior e Baltasar". Taor era príncipe de Mangalore. Também viu a estrela e acreditou na importância dela. Tal como os outros três reis magos, armou um imponente séquito, abandonando o seu reino, para se prostrar perante o novo rei que ia nascer, e dar-lhe a sua melhor oferta. Porém, devido a diversas fatalidades, Taor desviou-se do caminho apontado pela estrela. Durante anos e anos vagueou pela Palestina e, um a um, foi perdendo todos os seus sinais de realeza, assim como todo o seu séquito. Taor fica só, sem companhia, sem roupa a não ser aquela do corpo, sem dinheiro a não ser uma única moeda de ouro que prova a sua existência, realeza e identidade, visto que tinha a sua efígie. Taor só não perdeu a sua crença de que ainda ia a tempo de adorar o novo Rei, e isso fê-lo continuar na sua demanda por Jesus. Por fim, até sem a sua moeda fica. Renunciando a tudo, visto que nada lhe sobrava para oferecer, renuncia verdadeiramente a si mesmo...passando a ser a sua oferta ele próprio. Continuou a sua peregrinação, foi feito prisioneiro nas minas de sal (perto da outrora Sodoma). Depois é libertado, passados muitos anos, quando já não era mais do que um vagabundo de si mesmo, um "homem transparente". Porém, a sua busca continuou e, ao fim de 33 anos, na altura da Páscoa dos judeus, ouve dizer que Jesus estava em Jerusalém. Taor chega lá na noite da Pessach, arrastando-se, e dizem-lhe que Jesus estava estava com os seus numa casa de José de Arimateia. Taor, ansioso, dirige-se para a dita casa.

Ficamos agora com o epílogo do aconselhável livro de Michel Tournier:
" A sala estava vazia. Uma vez mais chegava demasiado tarde. Tinha-se comido naquela sala. Havia ainda treze recipientes e em alguns deles um fundo de vinho tinto. Em cima da mesa viam-se fragmentos de pão ázimo. Taor sentiu então uma vertigem: pão e vinho! Estendeu a mão para um copo e ergueu-o até aos lábios. Depois amassou um fragmento de pão e comeu-o. Então vacilou mas não chegou a cair. Os dois anjos que velavam por ele desde as minas de sal acolheram-no nas suas asas e levaram aquele que, depois de ter sido o último, o perpétuo retardatário, acabara por ser o primeiro a receber a eucaristia."

Taor, o quarto Rei Mago, fez a oferta, inconsciente, de si mesmo...entregou o seu coração e alimentou a sua fé, a um novo rei, que nunca viu ou ouviu. Terá sido o primeiro homem que, mesmo sem conhecer a Palavra de Cristo, viveu em/ e por nome Dele.


FELIZ DIA DOS REIS.
Ofereço-vos o meu sorriso embrulhado em fios da Teia.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

TEMPO A "QUATRO MÃOS"...

Sobre começos e recomeços, já que estamos na época pré-determinada em termos de calendários, de um Novo Ano, encontrei um poema de Rangel Castilho "O Tempo - Eterno Recomeço..." ( no seu blog Rangel Castilho estão lá, inclusivé, músicas deste artista). "Peguei nele" (letra a letra, frase a frase) e a quatro mãos, qual manta de retalhos, acabei por acrescentar as minhas palavras às deste artista brasileiro, "músico, poeta e pantaneiro" (como o mesmo se auto-denomina!).
Assim...Rangel a verde e Su a rosa! Novo ano que recomeça...novo tempo que continua...mais palavras que se prolongam...
O Homem que pára e olha...
O relógio que avança aos segundos,
Passo a passo,
Um a um,
E o caminho que ambos definem
Revela a eternidade do tempo:
À nossa frente
Essa imensa grandeza arquitetada grão a grão,
Testemunha solitária
Arrastando civilizações, povos e culturas.
Como ser vivo que se finge de morto
papel velho e amarrotado
Com mensagens escritas e por ler, Espremendo a seiva do homem,
Na esperança de encontrar algo de melhor,
Purificando a essência da humanidade,
Até à última gota do que chamam de existência.
Segue o tempo.
Imutável.
O tempo, deteriorização do imperfeito,
Verbo escondido por conjugar. A transmutação do verme:
A lagarta na mais bela borboleta.
Da Teia se cobre a mais fina seda.
Tempo é eliminação.
Processo natural de selecção.
O tempo é a incrível marca invisível do não se sentir satisfeito.
Que carregamos como tatuagem viva nas nossas almas. Tempo é dinâmica.
Movimento que nunca apanhamos.
Tempo é a plenitude do nada,
Onde tudo se finaliza e recomeça.

E a breve vida de cada um
Cabe apenas no espaço de um abrir e fechar de olhos.
O tempo são duas forças eqüidistantes,
Elásticas, distendidas, incorporadas que são,
Por não existir uma sem a outra.
Gémeas orfãs de pai e de mãe.
Uma agrega: encaixando desordenadamente aquilo que vaga no universo,
Materializa, unindo campos incompletos.
A outra altera, recompõe e reordena.

Deus e o Diabo ditando os mesmos deveres.
Uma brutaliza, a outra lapida.
Dependendo da perspectiva,
A escola é a mesma.
O tempo existe tal como o silêncio.
Ficando o dito pelo não dito,Simplesmente acontecendo.
Algo inerente a todas as coisas e atos,
Mas que não se concretiza,
Porque já está lá.
Tal como o tempo,
O silêncio é a intervenção,
Já sendo o todo.
O grito apagado da garganta rouca
Que deu o corpo à antiga revolta.
É a síntese onde tudo se conceitua,
Planeja e constrói,
Como também que danifica,
Destrói,
Propiciando assim um eterno recomeço.
Não se tocando e não se vendo
Sem se ser como um S. Tomé
Apenas acreditamos que ele existe.

...mais uma volta ao carrossel...