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sexta-feira, 27 de junho de 2008

Terceira e Quarta Imagens...

Há novelos de palavras que se respiram como labaredas consumidas pelo incenso imolado nas pregas do tempo. O passado espreita perigosamente sobre o ombro esquerdo enquanto deus conquista a mão direita. Entre as teias elípticas que lanço ao mar as pedras rolam com o peso das letras que se movem e que se juntam em babilónicas construções salgadas. Há quem diga que são lágrimas as contas do céu. Há quem as esconda numa gaveta escondida num canto qualquer do coração. Há quem as coleccione e ofereça ao diabo. Sacrifícios impunes levantam-se das sombras e circulam em redor da mente enquanto esta oscila entre a lucidez e a loucura.
E eu apenas espreito. Apenas aceito o que consigo entender.

Prato frio sobre a vida enquanto a morte se mascara de talher.
A escolha é o compasso lento que marca a respiração no relógio de parede e quando dá as horas certas eu ainda estou a olhar para os segundos imediatamente atrás, arrastada pelos passos cortantes da memória.
A espiral que se move entre o coração doTempo.

...inquietantes, para além de belas, estas imagens que me foram deixadas pela querida cleo (Impulsos da Alma), em forma de associação à Teia. Muito obrigado. Deixei as palavras nascerem à volta delas.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

VENENOS DE DEUS REMÉDIOS DO DIABO

"Em que preciso momento a pessoa adormece? Quando perde o mundo, tombada no fundo da alma? Quando apenas lhe sobra uma derradeira fresta de luz, ecos de vozes sopradas de tão longe que parecem rumores de anjos?"Desta vez, foi a apresentação do novo romance de Mia Couto "Venenos de Deus, Remédios do Diabo" (apresentação realizada por José Saramago), que nos levou de novo a Lisboa (a mim e à Gracinda), mais propriamente à nova livraria Byblos na zona das Amoreiras, na terça-feira (24 de Junho). Deixem-me dizer-vos que é uma espécie de super livraria que oferece diversos serviços, e com uma qualidade excepcional. Desde a área da Literatura em várias áreas, Infanto-Juvenil, BD - Merchandising, Quiosque (com mais de 2500 títulos de revistas), Música e Filmes, Videojogos, Cafetaria, Auditório e com muitas zonas agradáveis de leitura, espalhadas pelos dois pisos.
A apresentação foi realizada em directo para a RTP África, com a presença, na mesa dos oradores, de José Saramago, Mia Couto, o Embaixador de Moçambique e Severino Coelho (Editorial Caminho).
foto por Alex Gandum
Otis, saxofonista moçambicano, abriu caminho à palestra com a apresentação, ao vivo, de um dos seus temas do álbum "Otis in the House".
foto por Alex Gandum
A actriz Patrícia Abreu fez as honras da casa lendo admiravelmente excertos deste novo romance de Mia Couto. E Severino Coelho iniciou a apresentação do " lançamento do livro de Mia Couto com a prata da casa": José Saramago.
"Aos 10 anos todos nos dizem que somos espertos, mas que nos faltam ideias próprias. Aos 20 anos dizem que somos muito espertos, mas que não venhamos com ideias. Aos 30 anos pensamos que mais ninguém tem ideias. Aos 40 anos achamos que as ideias dos outros são todas nossas. Aos 50 anos pensamos com suficiente sabedoria para já não ter ideias. Aos 60 ainda temos ideias mas esquecemos do que estávamos a pensar. Aos 70 só pensar já nos faz dormir. Aos 80 só pensamos quando dormimos."


Saramago contestou, de um modo muito prazenteiro, especialmente a última frase deste excerto. Aconselhou a que numa 2ªedição se corrigisse e escrevesse que "aos 80 se sonha quando se pensa." A propósito desta frase, falou do seu livro que está a escrever "A Viagem de um Elefante", e comparou a pessoa de 80 anos a um animal ao qual tentamos descortinar os seus sentimentos e as suas emoções. O escritor põe o animal a sentir e a pensar. E fazêmo-lo no sentido de o tornar uma personagem interessante, apesar de ser sempre um risco enveredar por este caminho. Acrescentou que "uma pessoa de 80 anos deveria ser deixada em paz, pois ainda tem muito que resolver no pouco tempo que lhe restará, sem ser analisado na lamela microscópica." Apresentou o universo das personagens deste novo romance e salientou que está a gostar muito do livro, que "está escrito numa prosa límpida, quase transparente". A dada altura, Saramago volta-se para Mia Couto e diz:" Meu caro Mia, eu acho que sim, que é um grande escritor. O Mia Couto é uma magnífica pessoa quanto um magnífico escritor."
Como nasce este livro?
Mia Couto refere que "tropeçou na idade, que foi assaltado pelo tempo" e que isso conduziu-o a escrever este livro. Teve de transformar este assunto não resolvido em história, sentindo que ao fazê-lo soltou amarras do seu estilo de escrita, como se estivesse a escrever pela primeira vez. Novamente, Saramago surge em espírito brincalhão de contradição, enquanto afirma que não acha que este seu novo romance fuja ao seu estilo. Quanto mais "uma tentativa de fazer outra coisa. Fez o mesmo contando outra história. Afinal, ele não pode, como quem não quer a coisa, renegar os vinte livros que escreveu até ao momento. Este livro poderia ser, no máximo, um atalho então. Tudo o mais serão sempre fantasias de escritores. Caprichos de escritores!"
Capricho ou fantasia, ainda bem que o soltou...Mia Couto conduz-nos de um modo completamente absorvente através da sua já conhecida prosa poética, e da neblina de Vila Cacimba, que atraiu, vindo de Portugal, o jovem médico Sidónio Rosa, em busca de Deolinda, uma mulata moçambicana, que conhecera num congresso médico em Lisboa, e por quem se apaixonou. Na sua terra natal, encontra os pais de Deolinda: Bartolomeu e Munda, e é lá que espera pacientemente pela sua amada. Deolinda está fora, realizando um estágio que se prolonga, cada vez mais em páginas de mistério, adensadas pelos diálogos filosóficos de Bartolomeu. Munda vive entre o amor e o ódio cegos.("- Continuam brigando?/ - Felizmente, sim. Já não temos outra coisa para fazer. Sabe o que penso, Doutor? A zanga é a nossa jura de amor.") A casa onde este casal mora é o centro voraz de um universo misterioso, de segredos e de mentiras, de amor e da morte, de penumbra, de anseios e de vozes do passado. E é o passado o maior paciente que Sidónio Rosa pode ter que tratar, através da estranha mensageira de vestido cinzento...aquela que quer semear as flores brancas por toda a Vila Cacimba: beijos-da-mulata, flores do esquecimento...
" - Cure-me de sonhar, Doutor.
- Sonhar é uma cura.
- Um sonhadeiro anda por aí, por lonjuras e aventuras, sei lá fazendo o quê e com quem... Não haverá um remédio que me anule o sonho? (...) Todos elogiam o sonho, que é o compensar da vida. mas é o contrário, Doutor. A gente precisa do viver para descansar dos sonhos.
- Sonhar só o faz ficar mais vivo.
- Para quê? Estou cansado de estar vivo. Ficar vivo não é viver, Doutor."

sábado, 21 de junho de 2008

SOLSTÍCIO DE VERÃO...ou... LITHA

O Verão (Estio), oficialmente, chegou. Apesar das próprias estações do ano andarem um tanto ou quanto baralhadas e trocadas. Hoje é o dia mais longo do ano; logo, a noite mais curta; ou seja, é chegado "o momento em que o Sol, durante seu movimento aparente na esfera celeste, atinge o seu maior afastamento em latitude, da linha do equador" (in Wikipédia). Quem entende disto, diz que é nesta noite (Noite de Midsummer) que é propício estabelecer-se contacto com as fadas e os entes especiais, através de rituais realizados em círculos de pedra.
Mas é durante este dia que LITHA, uma festa celta, comemora e honra o elemento SOL como símbolo da VIDA.

A Deusa e o Deus encontram-se no esplendor da sua juventude e celebra-se o fervor da vida. Aliás, era considerado que este Deus atingia o ponto máximo do seu poder, apesar de, ao mesmo tempo começar o declínio do mesmo. De seguida, daria o seu último beijo à Deusa, sua amada, e partiria no Barco da Morte, em busca da Terra do Verão.

Nos tempos antigos, esta data era comemorada através de inúmeros jogos e festivais.

É tempo de assumir humildade suficiente perante o que fazemos na vida, de modo a não ficarmos cegos pelo aparente poder e perene sucesso. Porque tudo na vida é cíclico e faseado; dividido em altos e baixos, na plenitude e na Morte, na oposição conjugada da Vida.
Como os círculos de pedra não abundam nos nossos lares, podem ser realizados rituais com velas vermelhas, queimando-se flores vermelhas ou ervas solares (temos a Camomila, Sabugueiro, Lavanda, Artemísia, Pinho, Rosas, Verbena, Samambaia, Cravo, Margarida, Lírio e Hera). Acompanham-se estes rituais com frutas frescas e vinho doce. E que vos seja concedido a todos a coragem, a energia e a saúde.

Notícias actuais relacionadas com esta data:
* Verão: 30 mil pessoas celebraram solstício em Stonehenge ;
* Solstício de Verão: experiência milenar repetida em Estremoz.

O Ritmo Antigo
O ritmo antigo que há em pés descalços,
Esse ritmo das ninfas repetido,
Quando sob o arvoredo
Batem o som da dança,
Vós na alva praia relembrai, fazendo,
Que 'scura a 'spuma deixa; vós, infantes,
Que inda não tendes cura
De ter cura, responde
Ruidosa a roda, enquanto arqueia Apolo
Como um ramo alto, a curva azul que doura,
E a perene maré
Flui, enchente ou vazante.
Ricardo Reis

Sugestão musical: AFRO CELT SOUND SYSTEM - Vol. 3, Further in Time

quinta-feira, 19 de junho de 2008

4º tema do DESAFIO MUSICAL: Pilar Homem de Mello

Palavras e gritos de ordem. Contradições contra as regras e contra aqueles que dizem ser excepções. O fundo da alma tocando a consciência do que poderia ser uma depressão. Um curso desejado, depois de algumas indecisões entre História, Filosofia e Desenho…fiquei com as Letras. Entre o passado e o futuro, Lisboa acolhia-me de novo.
Os intervalos das aulas entre amigos de Filosofia, matraquilhos na Associação e pinturas de cartazes para as manifestações… muitas vezes, também em tempo de aulas tudo aquilo que referi.
Descobria o prazer das entrelinhas, o prazer das coisas simples (que entretanto esquecera com a ânsia de ser adulta), bebia das palavras dos poetas e dos filósofos como se estes fossem os grandes mestres da vida: Pessoa, Sá-Carneiro, Brandão e Pascoaes, Espanca e Meireles, Plath, Thoreau, Heidegger, Cocteau… Perdia-me entre a profundidade romântica de Friedriche e os traços oníricos de Dali, Klimt, Musante e de El Greco.
Na esplanada também se estava bem. O sol batia em cheio dentro de nós e as conversas pseudo-intelectuais vestiam-se de burburinho; a memória entrecruzava-se com o gosto de viver.A esperança incendiada dentro de “um copo sem fundo”, realmente…Na famosa manifestação dos estudantes contra as propinas (fazia parte da Comissão Anti-Propinas), nas escadas da Assembleia da República estávamos sentados de costas para a mesma, no cimo dos degraus, virados para a imponência de mil e tal estudantes unidos pelo mesmo grito. Só dei conta de cair pelas escadas abaixo, ser pisada; enquanto me levantava tudo parecia ser um trecho surrealista de um filme que não o meu, em câmara lenta…perdi os meus amigos de vista, gritos, choros., pessoas que corriam e caiam, e apanhei com o cabo de um bastão de um polícia da Força de Intervenção. Pelos vistos, agiram assim porque os estudantes iam invadir a Assembleia da República! De costas e sentados! Apanhei ainda mais, de cada vez que me tentava levantar. Saí na capa de uma revista do Jornal Público: em ponto grande a apanhar tareia da polícia! A minha mãe via nas notícias o que se estava a passar…não descansava...não sabia de mim…nessa altura não havia telemóveis para contactar com a família. Cheguei de rastos, dorida, magoada.
Apagava a raiva com a música. Fechava os olhos e curava as dores: as da alma e as do corpo.
A incredulidade nascia das cinzas e acordava no novo dia de uma nova sociedade para mim: a da mentira e corrupção política. Não chegava viver de idealismos. Os ideais magoavam. Os sentimentos magoavam. A confiança gorada magoava. Não se dava a volta ao medo…Recuperava músicas e músicos antigos: nacionais e internacionais. Sérgio Godinho, José Afonso, Mário Branco, Violent Femmes, The Pixies, Joy Division… e os clássicos Mozart (Requiem, vezes sem conta) Bach, Ravel, Debussy... A profusão de tonalidades adaptava-se às variações frequentes de estado de espírito. A Esfinge não teria maiores enigmas do que o meu próprio enigma na forma de viver e sentir a vida.
Saudades da criança que muitas vezes não fui.
Por isso, todos os dias era o “primeiro dia da minha vida”, em cada olhar, em cada palavra, em cada gesto, em cada passo, em cada noite que acabava, em cada descoberta nova, em cada desejo cumprido, em cada sonho nascido, em cada folha que caía do calendário da vida…o tempo daí até hoje… Ainda sobre o DESAFIO MUSICAL, o meu “TOP” está a ser:
Pink Floyd;
Mike Oldfield;
Depeche Mode,
Pilar Homem de Mello
Esta música foi escutada vezes sem conta. A letra cantada ainda sem mais conta…gosto mais deste resultado na voz de Pilar do que na original do Sérgio Godinho. É como que faz a junção de várias tendências e significados que grassavam na altura…mas ainda hoje me sabe tão bem voltar a escutar este tema.

...e ainda gosto de adormecer a ouvir música...

domingo, 15 de junho de 2008

78ª Feira do Livro de Lisboa...e Pão Doce!!

Ontem, eu e a Gracinda fomos visitar a 78ª Feira do Livro de Lisboa. Independentemente do triste espectáculo e pressões que o Grupo Leya originou no momento prévio à abertura desta feira, é sempre um momento de uma certa tradição que me leva à visita anual deste evento. Uma tarde bem passada, com as temperaturas a amenizarem-se gradualmente, um número razoável de visitantes que dava azo a que se "passeasse" por entre as "tendas" dos livros, de um modo tranquilo. Descobrimos alguns títulos novos, revistámos outros já conhecidos e ainda aproveitámos alguns preços do Livro do Dia. Encontrei o João, um amigo de faculdade que já não via há cerca de dez anos. Como ele diz:"Parar é morrer"! E agora está a tirar outro curso de História de Arte. Apertei a mão ao Gerónimo Stilton, que estava a dar uma espécie de autógrafos carimbados a quem comprava os livros desta série para crianças, e que está a ter um sucesso enorme. Até recebi um marcador e um balão, após ter estado numa micro fila, na qual uma menina pequenina perguntou a esta menina grande se também estava na fila! E nada como um delicioso momento de pausa, na relva verde e fresca onde, para além de nós, eram inúmeras as pessoas que se sentavam e apreciavam o agradável entardecer. Não descortinámos formas nas nuvens pois estas estavam um pouco "esfarrapadas", mas lanchámos um delicioso Pão Doce (já não comia há alguns anos!). E espreitem só o meu saco de compras:
* O Manual das Sociedades Secretas, de Michael Bradley, Edições Fubu;
* O Manuscrito Misterioso (1º volume), de Gerónimo Stilton, Editorial Presença;
* Barafunda Medieval (da colecção História Horrível), de Terry Deary, Publicações Europa-América;
* Os Terríveis Egípcios (colecção História Horrível), de Terry Deary, Publ. Europa-América;
* Os Miseráveis Romanos (colecção História Horrível), de Terry Deary, Publ. Europa-América;
* O Império Celta, de Peter Berresford Ellis, Zéfiro;
* Portugal - Terra de Mistérios, de Paulo Alexandre Loução, Ésquilo;
* Lugares Mágicos de Portugal e Espanha, de Paulo Alexandre Loução; Jesus Callejo e Tomás Martínez, Ésquilo.
* Revista Acrópole: Lugares Sagrados de Portugal e Espanha, número 1.
Muito para ler, preparar e trocar!

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Segunda Imagem...

...e quando escuto deveras me perco nas florestas emaranhadas que habitam dentro de mim...o silêncio assalta as palavras, tomando-as como reféns da sua própria ilusão...e quando se caminha nesta floresta regressa-se sempre e apenas ao local de onde se partiu......a segunda imagem que resulta do desafio: VENHAM IMAGENS, e que aqui deixo, é da papoila. Poética, deslumbrante e avassaladora na sua beleza. Mais uma preciosidade em termos de imagem que aqui fica a dar o seu testemunho na Teia. Muito obrigado, querida Papoila!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Primeira Imagem...

Sou o sabor agridoce da vida que ingiro à medida das minhas necessidades.
Encontro-me em todas as tonalidades elípticas que derivam da fusão entre a chuva e o sol; entre a bonança e a tempestade…entre a lágrima e o sorriso.
E enquanto parece que perco palavras, na realidade estas germinam debaixo de todos os pensamentos possíveis.

photo by Floriana Barbu@

Esta é já uma das imagens que recebi em resposta ao desafio que lancei: "Venham Imagens", associadas a mim ou à Teia. Muito obrigado, grande amiga Gracinda. Achei-a muito integrada naquele mundo "meu" que tão bem conheces: as espirais, a reflexão, o estado líquido e a introspecção. É linda.

P.S.: Podem continuar a enviar mais imagens para o meu mail!

terça-feira, 10 de junho de 2008

100 POST "desta" Teia: final de ano lectivo!

Podia falar no dia de hoje: para alguns perdidos no tempo (e não adianto mais!), o “dia da raça”! Mas é perder tempo, quanto a mim. Vivemos, muitas vezes, de glórias passadas e de erros presentes (e aqui falo do actual governo que temos!). E como não me apetece falar de tristezas (basta ter olhos na cara e um pouco de bom senso, para percebermos o quão mal “isto” vai!), celebro o 10 de Junho com uma pseudo-despedida do ano escolar. Nesta escola as aulas já terminaram. Os alunos já andavam a ser “assaltados” pelo Verão há já algum tempo, e os cadernos, livros escolares, mochilas, toques de entrada (que os de saída são sempre os mais esperados por eles!), trabalhos e testes já não eram dos “melhores” companheiros. Ou os mais desejados.
É sempre em épocas de final de qualquer coisa que caímos neste estado de auto-avaliação, do nosso próprio trabalho e do nosso desempenho, até em termos afectivos, para com os nossos alunos. Aliado ao cansaço encontra-se, também, aquela saudade que entra de fininho, batendo à porta, não da sala de aulas, mas sim do coração. Ao longo do ano, nos intervalos, as conversas agradáveis com os meus alunos fazem nascer sorrisos e a plena sensação de que as coisas correram bem. Poderão sempre correr melhor. Haja um pouco de tudo e de todos.
Agora, a nós, espera-nos ponderações, avaliações e reuniões… Entretanto, nasceu o palavreando. É um blog que apresenta alguns trabalhos que eles foram realizando. Vai sendo completado aos poucos e poucos, não só com os trabalhos mas também com críticas musicais, cinematográficas, literárias, sugestões de livros…como lhes disse, é deles. Que o cultivem e desenvolvam ao gosto. Estão lá textos bem engraçados. Façam uma visita aqui: PALAVREANDO.
Não querida deixar de fazer menção a alguns outros pequenos grandes tesouros que também recebi deles. Este desenho “emo” da Maria (8ºA) para esta professora que aqui escreve na Teia, há já algum tempo:

Um poema escrito pela Tânia (do 7ºD), que partilhou comigo: “Porque temos de fazer
Os possíveis e os impossíveis,
Para ter tudo o que queremos.
Porque a vida é injusta
Para uns,
E justa para outros...
Porque há coisas que podemos fazer,
E outras não!
Porque será que queremos
Sempre o que não temos?
Será por inveja,
Ou por não gostarmos da nossa vida?
Perguntas que fazemos,
Sem, se calhar, nunca ter resposta...
Porque há coisas nesta vida,
Que não precisam de ter respostas.
Precisam sim, de não fazer perguntas,
A algo que nunca conseguiremos
Responder...”
Ou outro poema escrito pelo Bruno Oliveira, do 8ºB (que também é um actor na Academia!): Naquele dia
Por ti estava a esperar
Esperei tudo o que pude
Ate o meu limite ultrapassar

Mesmo assim
Devagarinho caminhava
A todo o passo que dava
Outro passo por ti esperava

Quando cheguei ao fim
Sentia que a esperança se esgotou
Mas de um momento para o outro
Tudo se iluminou

Sentia-me infeliz
Ate que a tua alma me chamou
Um salto eu dei
Caminhei para onde tudo se combinou

Quando chegaste
Apesar do dia estar a morrer
Para mim eras uma fonte de luz
Luz que me estava a aquecer

Quando não estavas
Tanto te queria falar
Quando não vieste sozinha
De nada me conseguia lembrar

Passei a tarde a ouvir
E para ti a olhar
Não falava muito
Só contigo queria estar

Quando ouvia
Também passava o tempo a pensar
Quantas razões tinha
Tinha para me afastar

Já estou a conta-las
8 já lá vão
São 8 razões
Que me impedem de abrir o coração

Quando me fui embora
No meio desta confusão
Passei de um momento feliz
Para o momento de solidão”



Obrigado! Tudo de bom para vocês neste vosso largo caminho…como costumo dizer:

É sempre em frente!

sábado, 7 de junho de 2008

DESAFIO: venha uma imagem!

…sou aquela por detrás do espelho que te diz que és tu quem estás por detrás dele duvidando da imagem que pesa mais do que o instinto e a razão lado a lado como pesos-pluma em ponto de equilíbrio na prova de que sou eu quem está por detrás do espelho afinal sem qualquer tipo de misticismo ou devaneio incrédulo como prova de que me refugio da realidade…porque tudo é cruel doce e infinitamente real…...o tempo tem sido um cruel adversário em termos destas questões da blogosfera e de colocar post´s e visitar os amigos dos outros blogs, mas hei-de pôr tudo em dia! Este é um desafio que recebi da képia há já algum tempito, o qual vou deixar aberto a todos, e que consta do seguinte: a partir de agora estão solicitados para me enviarem uma ou mais imagens que vocês associem, de algum modo, a mim ou à Teia. O meu mail espera pelas vossas associações, para depois, publicar: susana.julio@gmail.com

domingo, 1 de junho de 2008

VIAGEM AO PASSADO - 1ª parte

Demos férias à rotina e fomos em perseguição das raízes do nosso passado. Perante as agruras e passagem do tempo, podemos ser as actuais testemunhas, predispostas a decifrar as mensagens destes monumentos de granito, que fazem dos primórdios da civilização.
Iniciamos a nossa visita histórica no concelho de Fornos de Algodres. Graças à excelente preservação, organização e sinalização destes monumentos, tanto por parte da câmara, quer por parte do GAFAL – Gabinete Arqueologia de Fornos de Algodres (um centro criado de forma a divulgar, preservar e desenvolver actividades no âmbito da riqueza arqueológica do concelho), foi-nos possível concretizar essa mesma visita, nas melhores condições. Ou seja, óptimos acessos aos monumentos; informação objectiva sobre o local e um bom estado de restauro.
Regressámos ao passado, mais precisamente ao 4º milénio A.C. (período Neolítico), ao entrarmos no Dólmen de Cortiçô, com a leitura das informações do GAFAL, apercebermo-nos de que esta anta foi reutilizada no 3º milénio A.C. (período Calcolítico).

Com idêntica informação arqueológica, conhecemos também a Anta da Matança, em que a únicas diferenças consistem na ausência de mamoa e a presença de ténues vestígios de gravuras.
A caminho de Figueiró da Granja, ainda no período Calcolítico, e sob uma chuva intensa de granizo, chegámos ao Castro de Santiago, que está localizado num Tor granítico no ponto mais elevado do cabeço (612 m), entre as aldeias de Vila Chã e da Muxagata. Apresenta grandes penedos com vestígios de troços de muralhas, que levam a concluir que a escolha deste local, cumpriu um objectivo de estratégia defensiva. Para além disso, podemos beneficiar de uma vista espectacular, que se entende até ao sopé da Serra de Estrela, na área de Gouveia.

“ Há sobre os grandes rochedos amplas cavidades ou caldeiras cavadas na pedra, que não têm nenhuma significação histórica, por isso que são de origem natural, produzidas pela acção das chuvas, a que se dá o nome de «marmitas de gigantes», ou «cavidades eólias». “ (in TERRAS DE ALGODRES, por Monsenhor José Pinheiro Marques, 1938)

O tempo transita do Calcolítico para a Idade do Bronze, tal e qual como nós transitamos para a Fraga da Pena, entre Queiriz e Sobral Pichorro. A uma altitude de 750 metros ergue-se um gigantesco Tor granítico, que para além de preocupação defensiva apresenta vestígios de ter sido “ um local especial onde ocorreriam actividades espaciais de carácter simbólico e sagrado. Mais do que uma área residencial, aquele espaço terá sido construído como cenário de praticas ritualizadas. A atracção que o Homem pré-histórico terá sentido pelo local, tal como hoje, terá tido tudo a haver com a imponente formação granítica que constitui, o maciço rochoso que surge aos nossos olhos como a Fraga. “ (in texto introdutório de António Carlos Valera, A LENDA DA FRAGA DA PENA , de Rosa Costa, 2008).
Atravessando um pequeno orifício entre os rochedos, embocamos num “terraço” que nos dá uma imponente vista sobre o vale da Muxagata até à Serra da Estrela. Assalta-nos uma sensação de grandiosidade que nos transforma nos pequenos seres estáticos e presos na fruição do momento…a imaginação alia-se ao peso do silêncio e a alma fica de boca aberta perante aquela magnificência. Só visto e sentido. Olhando para o lado, numa saliência do penedo deparamo-nos com uma curiosidade…ora vejam lá se a descobrem?!
Ao visitar o CIHAFACentro de Interpretação Histórica e Arqueológica de Fornos de Algodres, tivemos a oportunidade de obter informação sobre actividades no âmbito de jornadas arqueológicas, sendo que uma delas era a realização de uma peça de teatral, encenada na Fraga da Pena, aproveitando o momento do pôr de sol até ao anoitecer, quando se acendem as luzes dos archotes e das fogueiras, facilitando a entrada num mundo mágico e misterioso. E a lenda “ONDPEDRACOM” volta a viver… “nenhum ser vivo podia aproximar-se deste local sem receber o apelo divino sujeitando-se a ser comido pelas pedras”.
De novo a caminho… outros vestígios divinos (tidos como pagãos) são encontrados num resto de uma ara romana aproveitada para fazer parede, na Igreja Matriz de Infias. Esta laje era dedicada ao deus Mercúrio e, até há pouco tempo, estava escondida atrás de um vaso de flores de plástico, que se encontrava no exterior da dita igreja, daí serem poucos a darem por ela. Na fotografia podemos verificar que esta ara encontra-se bastante deteriorada pelo tempo cronológico e meteorológico mas encontra-se a seguinte inscrição:
DEO
MERCVRI
APONEVS
SOSVMVS
A(nimo).L(ibens).V(otum).S(olvit).
Fomos mais para baixo no Concelho de Fornos, em direcção a Vila Ruiva e aí procurámos a Capela do Anjo porque ao seu redor sabíamos da existência de uma necrópole medieval. É um conjunto de mais de duas dezenas de sepulturas escavadas na rocha, com características diversificadas. Supõe-se que terá tido origem no século IX, com vestígios de ocupação ainda nos séculos X e XI.
Porém, nem tudo nesta viagem foi ouro sobre azul. Mudando de concelho, mais propriamente no de Mangualde, dirigimo-nos à Cunha Baixa para visitarmos a respectiva Anta. O acesso a este monumento está bem indicado, contudo, o acesso pedonal fez-nos crer que éramos uns Indiana Jones em busca da sua anta perdida, visto que era um autêntico caminho de cabras, desmoronado, cheio de silvas, ervas altas e lama, com um portão de ferro fechado. Com estas dificuldades encontramos a dita anta. Já esteve em melhores condições de conservação. É um monumento megalítico com câmara e corredor, datado entre 3000 e 2500 a.C.. O regresso foi realizado através de um caminho por nós improvisado, entre vinhedo particular e depois pela mata…era preferível ao caminho “oficial”. Ainda dentro do concelho de Mangualde, fomos ao suposto Castro do Monte do Bom Sucesso, a cerca de 765 metros de altitude, na freguesia de Chãs de Tavares. Não se encontra qualquer tipo de informação sobre ser um castro. O que se consegue ver é um monte cheio de silvas e ervas altas (mais uma vez!), totalmente devotado ao abandono de qualquer género de conservação. Para além disso, a via romana que se sabe existir também está escondida algures no meio desta descuidada vegetação. É lamentável que tal suceda, visto que é um um local com uma vista assombrosa que se estende até à Serra da Estrela, partindo de um monte em cujo topo se encontra uma muralha circular, em que o centro é um vértice geodésico. No interior dessa muralha podemos encontrar pedras muito antigas (gravadas com figuras de vieiras e formas circulares), assinalando uma certa presença ritualística. Descemos desse topo através de uma ampla e antiga escadaria que nos conduz ao sopé onde foi erguida a capela da Nossa Senhora do Bom Sucesso. Desta vez, os sons da natureza foram substituídos, desagradavelmente, pelo ruído das duas pedreiras que circundam o Monte do Bom Sucesso. Tudo em nome de outras prioridades, pelos vistos. No concelho de Aguiar da Beira, em Carapito, fomos conhecer o respectivo dólmen. Ele estava lá, após um acesso complicado via automóvel e depois pedonal. Quando lá chegámos deparámo-nos com alguns esteios quebrados e caídos por terra. A vegetação circundante era praticamente da nossa altura. Mais uma aventura na Beira! Passando para o concelho vizinho, em Sátão, tentamos visitar a Anta de Casfreires. A indicação até um dado momento é relativamente fácil. Estacionamos o carro perto de uma placa que indica a dita, anta a aproximadamente 600m de distância dali. Confiantes na boa sinalização, iniciámos o percurso a pé, por entre uma paisagem multicolor e magnífica. Após uns vários 600 metros sem encontrar a dita anta, chegámos a um cruzamento onde não existe qualquer indicação quanto ao rumo a seguir. Ora visto que não temos nenhum perfil para peregrinos de Fátima em busca de miragens perdidas no tempo e no bom senso, resolvemos desistir a procura e voltámos, com muita pena, para trás.
É de louvar a iniciativa da Câmara Municipal de Fornos de Algodres, do GAFAL e do CIHAFA, em termos de acessos, preservação e divulgação dos nossos monumentos megalíticos, que não são só pedras; e gostaríamos de apontar o dedo aos restantes concelhos e respectivas câmaras municipais, no sentido de tomarem este exemplo e cuidarem melhor deste património nacional que é de todos.

“Mas proteger, salvaguardar e valorizar não basta. Antes de tudo o mais, há que não esquecer para quem este trabalho se destina. De uma maneira geral, para todos nós, mas de uma maneira muito mais concreta para as populações locais: para aqueles que vivem em torno desses vestígios que representam, em muitos casos, as suas origens. “ (texto introdutório de António Carlos Valera, IBIDEM).
Nota: Muitos dos vestígios históricos encontrados nos referidos monumentos podem ser vistos em exposição permanente no CIHAFA, situado no edifício do tribunal de Fornos de Algodres. É de salientar a extrema simpatia, atenção e partilha de informações que nos foram facultadas por parte da técnica que aí se encontrava (já agora, esperamos que já se encontre restabelecida!).
texto por taliesin e su