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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

árvore sagrada

Existem determinados rituais que vamos descobrindo ao longo das nossas vidas, correspondentes a outras eras e a outros tempos. Numa altura em que o próprio Tempo parece correr vertiginosamente para um pós-modernismo “elevado a um extremo inefável”, em que o presente de hoje amanhã já é obsoleto, ainda encontramos reminiscências disfarçadas de mitos e de lendas, devido às suas estruturas não encaixarem com o pensamento contemporâneo. Obviamente, surgem revivalismos religiosos, estéticos e culturais a toda a hora, apenas como modas que voltam e que vão, ao sabor da vertigem consumista deste século. Finais dos tempos, dizem uns?! Cá para mim, é mais uma repetição dos tempos.
Numa das nossas incursões pela bela Galiza, encontramos no Mosteiro de Santa Cristina de Ribas de Sil (Ourense) a árvore sagrada que ali serve de altar de devoção e de pedidos de inúmeros crentes. Esta árvore tem já um culto antigo, sendo bastante conhecida na região. Herança, talvez, dos habitantes celtas e dos seus sacerdotes, que adoravam as árvores e a natureza, restando como prova de uma não total conversão dos locais à cristianização. Para além disso, existe a crença de que quem entrar nos seus cascos e cavernas ocas acabará por ser curado dos males de que se padece. Por entre as ruínas do mosteiro beneditino (século IX) e igreja românica (século XII), e por entre a enorme extensão de centenários castanheiros, surge este outro castanheiro, com a forma bizarra e grotesca, parecendo encerrar uma caverna dentro de si mesmo, que podemos vislumbrar na parte detrás. Os seus ramos, vestidos ou despidos conforme a época, estão pejados de fotografias. Também de terços, colares, pulseiras, moedas coladas, cigarros, doces, imagens de santos e muitos papéis com pedidos escritos em diversas nacionalidades. Desde aquela estudante que queria ter boas notas num exame de faculdade a alguém que queria deixar de fumar; ou outra pessoa que tinha uma doença incurável e que estava em desespero de causa. O certo é que o santo em destaque na árvore (penso que fosse São Benito) tem muito para onde se virar. E como diz o velho ditado:”Em Roma, sê romano!”…nós não fugimos à regra e deixámos os nossos pedidos. Ali ficou ele, resguardado por algo que dizem que não é assim tão biodegradável. Neste caso, dá jeito. O Luís disse-nos que quer lá voltar daqui a vinte anos para ver se o papel ainda lá se encontra...e se os pedidos que fizemos a este Santo deram resultado! E o que é que se pode querer mais?!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

hollidays - 2ºdia!

O segundo dia rompeu claro, no entanto demasiado cedo para uns mais obstinados em abandonar o aconchego da cama. Entre actividades de higiene pessoal, mais ou menos longas, e outros afazeres, rematámos o pequeno-almoço com a especialidade de uma pastelaria local, a queijada de laranja, e partimos para terras galegas, em direcção ao Castro de San Cibran de Las, na província de Ourense. Este castro, de grande dimensão e ainda em fase de escavações, fica situado num monte ermo a partir do qual se pode contemplar o imenso quadro de colinas e vales que o circundam. Sob o sol quente do meio-dia, vagueámos no povoado, entre as três muralhas defensivas, em troços de ruas empedradas onde outrora circularam os seus habitantes. De San Cibran, seguimos para o Castro de Santomé, desta feita a escassos quilómetros da cidade de Ourense. Apesar da proximidade da civilização, este conjunto arqueológico de vestígios castrejos e romanos parece perdido no meio de um bosque silencioso e antigo. A sua localização e alguns pormenores da sua construção levaram-nos a classificá-lo como uma estância de férias para os mais abastados. Provavelmente com direito a banhos no recolhido riacho que ali passa.Depois de um almoço de sandes e sumos, porque o tempo e os meios eram parcos para grandes repastos, seguimos rumo à Ribeira Sacra, região que se estende ao longo dos vales dos rios Minho e Sil e assim designada devido ao elevado número de igrejas e mosteiros que aí se estabeleceram durante a Idade Média.
Antes de desembocar no Minho, o rio Sil flui encaixado num profundo vale de enormes paredes graníticas, estabelecendo a fronteira entre as províncias de Lugo e Ourense. Segundo a lenda, esta fractura na rocha conhecida como Canón do Sil não é mais do que uma ferida provocada na Galiza pela deusa Juno quando o seu marido, Júpiter, se enamorou da terra galega.
Uma vez no Mirador de Cabezoas e depois no mirador Balcones de Madrid, sustivemos a respiração perante a beleza deste cenário natural. Procurámos planos e perspectivas para a melhor foto; nenhuma fez justiça à sua monumentalidade. Entre o primeiro e o segundo mirador, visitámos o Mosteiro Santa Cristina de Ribas do Sil, ponto de paragem obrigatória na rota da Ribeira Sacra. O mosteiro, quase em ruínas, construído nas escarpas do Sil entre a densa vegetação de castanheiros e carvalhos, concede ao lugar uma atmosfera mística de encanto único. Há quem diga que as suas árvores centenárias semi-ocas têm a propriedade de curar certas maleitas se nos colocarmos no seu interior. Não falta mesmo a árvore dos milagres, repleta de pedidos e oferendas dos visitantes. O nosso também lá ficou, numa folha de papel A7. Não propriamente um pedido, mas um testumunho da nossa passagem por ali. Já no final da tarde, apressámo-nos para o município de Castro Caldelas. Não queríamos perder a visita ao castelo, uma fortaleza medieval construída sobre um castro celta. Das suas muralhas e torres contempla-se toda a vila, um vasto casario com bonitos telhados de ardósia. Deixámos o castelo e aproveitámos a esplanada de um café ali perto para um pequeno lanche. Uma empregada simpática serviu-nos, por conta da casa, quatro pedaços de um bolo típico da região, a bica amantecada. Agora sim, estávamos prontos para o regresso.

Não me lembro onde nem o que foi o nosso jantar neste dia. Não me lembro se foi nesta viagem de regresso a casa que enchemos a barriga com riso.

domingo, 23 de agosto de 2009

"some things cost more than you realize"

foto por TrixyPixie
Uma pausa na Teia para uma chamada de atenção para o tráfico de sexo, envolvendo mulheres e crianças, em todo o mundo. A MTV Exit, a UNICEF e o grupo The Killers envolveram-se na realização do clip que aqui vos deixo, ao som do tema "Goodnight, travel well", do álbum "Day&Age", dos The Killers.

As estatísticas revelam a assombrosa realidade: todos os anos, mais de 1.2 milhões de crianças são traficadas, e 80% destes números são encaminhados para a exploração sexual, sendo que o grupo de maior risco pertence ao sexo feminino.
"We are deeply shocked and appalled that women and children are forced into such exploitative situations, said a spokesperson for The Killers. We hope that through MTV's efforts, and this powerful video, millions of people across the world learn about this tragic form of modern-day slavery."

Vejam, escutem...e pensem. Apenas.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

hollidays - 1º dia

Pois é. As férias, tal como todas as outras coisas que nos parecem boas, voaram num instante. Grupo de quatro (cinco, a contar com o Sky!), saída cedo da Margem Sul (vulgo "deserto", para alguns VIP´S!) e rumo ao norte, com direito a várias paragens. Primeira: Castro de S. Lourenço (na freguesia de Vila Chã, Esposende). No topo do monte de S. Lourenço beneficia-se de uma excelente vista sobre toda a orla costeira, onde desagua o Rio Cávado, desde a Apúlia, passando por Ofir, Esposende e no extremo Norte a Foz do Neiva. De facto, a beleza do local é extraodinária: o verde dos campos cultivados contrasta com o escuro do mar do Norte e as dunas de areia salpicadas de casas. Como já dissemos por diversas vezes, na Pré-História sabiam bem escolher os locais para morar! O castro é testemunha de um passado que remonta ao Calcolítico (III milénio a.c.), contudo evidencia a sua datação através de vestígios das casas circulares, e cerâmicas encontradas da Idade do Ferro (séc. V-IV a.C.). A presença romana é atestada pela presença de construções rectangulares, denários e de um altar dedicado a uma deusa. Algumas casas foram reconstruídas para dar uma imagem mais concreta (exterior e interior) do que teriam sido estes edifícios. O segundo "poiso" efectuou-se em Vila Nova da Cerveira, onde fizemos a subida ao monte para avistarmos outra belíssima paisagem, ao lado do símbolo deste local: o cervo. Ao fundo avistavamos no rio Minho, a Ilha dos Amores e do outro lado: Galiza.
Já nesse outro lado, fomos directos ao Castro de Santa Tegra. Mais uma paisagem avassaladora. Entre o artesanato a puxar para o etno-celta dos comerciantes galegos, percorremos a subida do monte de Santa Tegra, ao mesmo tempo que percorríamos a extensa paisagem deste castro: inúmeras escavações de casas, assim como de alguns penedos ainda com vestígios de petróglifos, subindo em direcção a uma vista entrecortada pelo Atlântico, o rio Minho desaguando no mesmo e do outro lado, desta vez, Portugal. Em termos de idade, este enorme castro revela uma ocupação que data do último terço do século I a C, com abandono da sua maior parte nos finais da I d. C.; com muita presença romana determinante.
Mudámos o rumo, desta vez, de novo para Portugal. Local de chegada: Aldeia da Prova, em Arcos de Valdevez (mas mesmo à beira da ponte que liga a Ponte da Barca). Hora marcada: jantar no excelente restaurante O MOINHO (Ponte da Barca). Posso garantir que a nossa dose (minha e da Gracinda!) de Polvo à Lagareiro estava uma delícia! O Márcio e o Luís que falem pela Posta Mirandesa e Bife Especial da Casa (que também aparentavam estar uma delícia!).
Mas isto foi só o primeiro dia!



terça-feira, 18 de agosto de 2009

QUEM É QUEM?: DESAFIO "DESFIADO"!

Demorou, mas aqui ficam as respostas para o desafio exposto uns posts mais abaixo, aqui na Teia: Quem é quem? * Para a primeira foto a preto e branco: Miles Davis;
* segunda foto a azul: R.E.M.;
* terceira foto a vermelho: David Gahan (vocalista dos Depeche Mode);
* quarta foto a cores: David Byrne;
* última foto, de novo, a preto e branco: David Bowie.
O que é que estes artistas têm em comum?As fotos!
São fotografias tiradas pelo excelente artista, fotógrafo e realizador holandês ANTON CORBIJN (site do autor: http://www.corbijn.co.uk/) . Acompanhou artistas como Joy Division, U2, Depeche Mode, Nick Cave, modelos, capas de revistas, actores, publicidades...... e realizou um grande filme (que aconselho a ver!): CONTROL (a vida de Ian Curtis, vocalista dos Joy Division). Anton Corbijn tem trabalhos que são autênticas obras primas, em que o jogo contrastante entre o preto e o branco, as sombras e as luzes, o desfocado e a perspectiva são imagens de marca que permitem uma rápida identificação do mesmo. Relativamente ao clip musical dos Depeche Mode, "Walking in my shoes", a inspiração é baseada no pintor holandês Hyeronymus Bosch, mais precisamente no tríptico intitulado "Jardim das Delícias Terrenas" (1504).
Um pormenor do quadro:
Quem respondeu correctamente a tudo foi a Luísa ( a ela, e a todos, obrigado pela participação). Aqui fica um convite a que conheçam as obras de todos estes artistas que foram referenciados neste post. E a "prendinha" aqui da Teia: uns brincos aqui do artesanato da su, para dar sorte!
(Luísa, espero que gostes!)

E mais um clip musical realizado pelo Anton Corbijn, desta feita dos U2, com "Please" (escutem e vejam, com atenção!):





segunda-feira, 17 de agosto de 2009

intervalo

degraus abertos em feridas na descida
todas as descidas são véus que separam a mente do coração
doses incertas de nevoeiros ardentes como algodão-doce moldando a alma
deitamo-nos na vida a horas incertas e acordamos sempre ao outro dia
desejando uma vida melhorenquanto isso, apenas lá fora, tudo acontece como deve ser
o carnaval da existência despe as máscaras acolhedoras que construÍmos
e chovemos lágrimas sobre a morte do nosso Peter Pan interior...

domingo, 9 de agosto de 2009

sábado, 1 de agosto de 2009

É verdade que me deito no esquecimento enquanto ele não tem corpo e não se torna na pedra perpétua que testemunha a eternidade da solidão. E que quando a noite se despe das luzes que enfeitiçam as almas-sereias, embalo a consciência na sedutora metamorfose das árvores secretas de onde recolho o teu amor. Não é fruto proibido. E não me faz ser expulsa de um ÉDEN ancestral. Não me nascem asas no corpo nem me transformo em serpente desde que caminho na tua alma. A luta devoradora pela vida ficou atrás da espada flamejante que guarda as leis do Homem em castelos de cartas caídas. A anatomia da minha pele é o mapa que lês com o coração. Não são as regras que nos libertam dos fios das marionetas...são as linhas que vêm de outros tempos mais atrás...são os rastos dos fios da água tornando-se mares, enquanto os nossos corpos se tornam no desejo escondido por detrás de cada esquina daquelas estrelas que orientam na solidão. Mergulho nesse cinzento-fluído. Descolo-me da imagem que guardas no álbum das memórias. Renasço do húmus fortificante do sangue na terra, e de novo sou eu.
Acordo... depois de cem anos, e mesmo com o beijo do príncipe, a vida não parou lá fora. No entanto, nasce-me um novo mundo inteiro apenas no milagre do teu breve olhar.