"Quando era criança tinha um caderno de vocabulário no qual anotava palavras especiais, da mesma forma que coleccionava conchas e pedras especiais. Dividia as palavras em categorias, tais como "palavras bonitas", "palavras feias", "palavras enganadoras", "palavras baralhadas" e "palavras secretas".
Na lista das "palavras bonitas"colocara: cardamina, violeta, alegoria, ginja-garrafal, fruta-pão, espremer, batedor de claras, cotovelo, nuvem. Na lista das "palavras feias" estava: bócio, casco, coto, cera.
As "palavras enganadoras" irritavam-me porque, à partida, faziam-se passar por inofensivas mas depois podiam ser maldosas ou perigosas, como por exemplo "efeito secundário" ou "transplantar". Ou então pareciam ter um efeito mágico, como "salva-vidas" e "berçário" e, depois, para grande desilusão, eram afinal completamente banais. Ou, ainda o seu significado não era claro para ninguém: não existiriam certamente duas pessoas na Terra que dessem exatamente a mesma resposta quando lhes pedissem para descrever a cor "vermelho-púrpura"!
As "palavras baralhadas" eram uma espécie de hobbie. Ou seriam mais como uma doença? Provavelmente ia dar ao mesmo. O "mergulhista de cristão" era um dos meus animais preferidos, bem como "banguru dos cosques" e o "dorto". Eu achava engraçado o trocadilho de letras e de palavras. Conseguia imaginar perfeitamente o aspeto das escadas dos abrigos anti-aéreos, mas o que seriam esbadas dos atrigos anri-talhéreos?
As "palavras secretas"eram as mais difíceis de encontrar, aliás essa era de facto a sua principal característica. Eram palavras que pareciam absolutamente normais, mas que tinham em si algo de muito diferente, algo de maravilhoso. Ou seja, eram o contrário das palavras enganadoras. O facto de conseguir encontrar na sala da minha escola uma ilha encantada transmitia-me segurança. A ilha chamava-se "escola-ola" e nela estava enterrado um tesouro. "
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Na lista das "palavras bonitas"
As "palavras enganadoras"
As "palavras baralhadas"
As "palavras secretas"
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"Há diversas formas de esquecer e recordar é apenas uma delas"...e recordarei, sem esquecer, o sabor e os aromas silvestres que este livro me deixou nas palavras, nos significados, nos mistérios envolventes e recorrentes em frequentes analepses, envolvendo e descrevendo três gerações de mulheres, uma antiga casa no Norte da Alemanha, o jardim de inverno dominado pela velha macieira, as groselheiras brancas, tudo isto na orla do bosque. Uma sinestesia maravilhosa para os sentidos.
Para além, disso, foi o primeiro livro que li dentro das normas do novo acordo ortográfico.
Para além, disso, foi o primeiro livro que li dentro das normas do novo acordo ortográfico.
Obrigado, Gracinda, por este tesouro maravilhoso.
5 comentários:
Não tens de agradecer. Foi de coração. :)
Parece ser uma leitura deveras interessante! Quem sabe não o apanho aí a jeito e o leio? Obrigada pela tua sugestão... :)
Beijocas e bom fim de semana!
Su, enviei-te email com convite especial.
beijoca
Obrigado, Carmen...não o vou esquecer! Beijo do coração.
Boa proposta de leitura. Vou ter em conta :)
Beijos enormes!
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