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sábado, 15 de setembro de 2012

Trocam-se panos de misérias por corpos novos que vistam outros trapos e outras roupas deixadas ao abandono de lojas assombradas que pairam as suas portas abertas sobre as ruas molhadas de Inverno.
As receitas para se ser feliz já não são passadas porque deus demitiu-se do seu papel de médico, aliás, demitiu-se da sua própria criação e passou a ser apenas o empregado de balcão que serve o álcool para afundar as mágoas de quem passa pela vida. As pessoas acotovelam-se, moribundas, nas autoestradas que rasgam a existência até à última saída que é a morte.
Aqueles que seguem os desvios parece que encontraram a felicidade mas, logo a seguir, vêem-se de novo nessa autoestrada, a carpir as mágoas e os desesperos que se amontoam como os tais trapos de misérias.
Trocam-se...sim...como a água e o pão...como o sangue e como o corpo de um profeta qualquer que deixou palavras agora deturpadas que nem ecos são do que outrora foi dito.
 Sonhei com uma nova religião em que o Homem deixou de ser o centro individual de si mesmo e a Natureza passou a ser respeitada como a única força motora capaz de provocar desde a vida à morte o movimento e a paragem...a glória e o martírio. Sem passados nem futuros, sem projectos e sem abandonos, sem causas nem consequências. O que é...apenas é. Nada mais do que isso.
E o melhor nisto tudo...é saber que se pode fechar os olhos e fugir de si mesmo.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

...no sentir falta de mim mesma compartimentam-se gavetas vazias e descuradas onde o pó do rasto das palavras não se limpa, antes se acumula nas frinchas das frias ausências, das mãos que não voltaram, dos dedos que não tocaram, das letras que não se trocaram...
...sou um desenho de Dali de gavetas fechadas, armário descontente e contente, que se organiza no conforto do dia-a-dia, pessoa que não se vê enquanto a roupa molda a presença instável do ser.
...mas ala que se faz tarde...o caminho apresenta-se na frente emoldurada de dias melhores...porque os piores foram a tempestade que varreu a estabilidade desse ser...que secou as folhas dessa árvore, que arrancou as raízes da lógica e do sentido...e agora, apenas paira na sobrevivência diária como pena leve que nunca chega a cair...
Porque sabe que o chão é mesmo ali embaixo...