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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Morte de Cassiel

Tenho a porta aberta
Ao desespero solitário de quem bate,
Toca e foge,
Sem deixar rasto na alma
E cicatriz no coração
O reino por detrás dessa porta
Reflecte-se numa miríade de objectos
Como se fossem vistos pelos olhos de um insecto
À luz crua da realidade.
Sem dar lugar seja ao sonho seja à razão
Os céus são quebrados por voos alucinados
De anjos obscuros
Que perderam a sua religião
A inocência tolda-lhes o olhar
E o peso do futuro pecado
Vai-lhes depenando as asas
As penas
Uma a uma
Caindo como neve escura ou cinzas obliteradas
Sobre a terra desse meu reino
Por detrás dessa porta aberta
Para quem passeia o desespero
A horas certas e pontuais
O porteiro sou eu
E a chave está em mim
Podem entrar

domingo, 17 de fevereiro de 2013

diz-me

Diz-me o que há em Casablanca?
Diz-me o que há em Istambul?
Diz-me o que há em Bombaim?
Diz-me o que há aqui?

domingo, 10 de fevereiro de 2013

...sem querer...

Não há mais nem menos do que a regra e as excepções nascem de uma lógica imperfeita que, mesmo assim, teima em subsistir. E a vida surge-nos como essa excepção, à tona da morte onde tudo o mais é perfeito porque tem início e tem fim. Teima em ser o desvio que se assume como a verdadeira directiva do ser vivo, vivenciando-a como a última água do deserto. Um acaso original que nasceu sem pecado; nasceu extraviado e tudo o mais são comportamentos manifestos dos sobreviventes aglutinados em torno de uma bolha de oxigénio.
No meio do nada, completamente belo, surgiu este impulso incoerente, totalmente incoerente, que assina, obliterando, a beleza da perfeição: o não-existir.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

É só uma caixa...


Dentro de uma caixa de papelão existia um vácuo enorme que não esperava ser preenchido por nada. Nada havia que o preenchesse. Mesmo que a caixa se revestisse do papel mais bonito entre todos, e dos laços mais fulgurantes, continuaria vazia à partida.
É que o "nada" nunca se consegue preencher de qualquer coisa, porém tem a fantástica habilidade de se disfarçar com qualquer roupagem.