ladeada de prédios infinitos e crescentes
com cortinas de gentes adormecidas
pensando que espreitam através das suas janelas
os telhados aguçados rasgando o céu da alma
e chove sangue, chovem pedras, chovem palavras
que tentam acertar nos incautos caminhantes
que se esqueceram do guarda-chuva
algures no canto negro da sua existência
sei que vou nessa estrada
e as florestas morreram nos sonhos de quem as queria conceber
sei que todos os dias se deitam palavras em vão nas cordas a secar
esperando que o sol de outro dia enxugue as lágrimas da noite anterior
sei também que que os estendais estão pejados de molas sem peças
que o vento assalta e leva os sonhos que se estendem nesse anoitecer
mas sei que, por vezes, as gentes adormecidas despertam
e afastam as cortinas da languidez
e abrem as janelas das suas almas
e dizem olá com o coração
eu sei que sim