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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

eu sei

sei que vou nesta estrada

ladeada de prédios infinitos e crescentes

com cortinas de gentes adormecidas

pensando que espreitam através das suas janelas

os telhados aguçados rasgando o céu da alma

e chove sangue, chovem pedras, chovem palavras

que tentam acertar nos incautos caminhantes

que se esqueceram do guarda-chuva

algures no canto negro da sua existência

sei que vou nessa estrada

e as florestas morreram nos sonhos de quem as queria conceber

sei que todos os dias se deitam palavras em vão nas cordas a secar

esperando que o sol de outro dia enxugue as lágrimas da noite anterior

sei também que que os estendais estão pejados de molas sem peças

que o vento assalta e leva os sonhos que se estendem nesse anoitecer

mas sei que,  por vezes, as gentes adormecidas despertam

e afastam as cortinas da languidez

e abrem as janelas das suas almas

e dizem olá com o coração

eu sei que sim



sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sempre que olho para as horas vejo qualquer coisa para além delas que me costura à carapaça de um relógio batendo no lugar do coração.