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terça-feira, 29 de outubro de 2013

...carros, pedras, passos, cigarros, encontros, desencontros, palavras, esquinas, estradas, passadeiras, cafés, esplanadas, vozes...autênticos supermercados explosivos de pessoas que aumentam o volume de vida no bulício intranquilo da Cidade e da Hora que nos marca compassadamente à medida que o sol e a lua se revezam nos altos céus da mediocridade...
...e quando se consegue, como é bom só sentir a chuva cair simplesmente na tela do guarda-chuva e não pensar em mais nada...

sábado, 7 de setembro de 2013

a máquina da vida pregou-me uma partida e eu pensei que estava presa na morte e enquanto chorava o riso congelou para sempre no que essa mesma vida fora
a máquina da vida tem poucas engrenagens e as ferramentas para as arranjar já não se fazem
quando parar, a máquina da vida, passa a ser humana

domingo, 21 de julho de 2013

Não vemos, não sentimos, não queremos ou só queremos, não pensamos, desejamos, outras vezes sentimos, escadas abaixo do alto da alma que se encosta no segundo andar de um corpo já por si em queda permanente.
Não compreendemos, não aceitamos, não renovamos, matamos, outras vezes ressuscitamos, coração aberto e alado fora desse corpo que já caiu entretanto.
Ninguém vê, ninguém aceita, ninguém compreende. Átomo contra átomo apenas. Caos depois da ordem. Colisão após colisão. Acasos da vida. Escadas acima e escadas abaixo. Corpos caídos do alto da alma. E há alguém que pensa que deus vê. Há alguém que pensa que deus tem olhos, tem boca, tem palavras, tem emoções, tem dedo castigador. 
Eu penso que os olhos são nossos, a boca é nossa, as palavras são nossas, as emoções são nossas e o dedo que se aponta também é nosso.
Somos o carrossel que parte do final no eterno retorno de um indivíduo que quer acreditar em alguma coisa para fugir da sua culpa.

terça-feira, 16 de julho de 2013

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Às vezes esqueço a alma em casa
E deixo o corpo sair à rua
Não dando conta do real tamanho da solidão
De todos os outros corpos sem almas
Pois estas costumam deixar-se em casa
Fechadas, sozinhas, quase abandonadas
Porque o tempo lá fora é de assalto à mão armada
Em busca de outras almas maiores
É que há um Banco Internacional onde estas se guardam 
E que mais parece ser uma prisão
Cada corpo que lhe aparece
Raramente costuma servir
Nada feito. É sempre assim
Corpo sem alma. Alma sem corpo.
Não há possibilidade de negócio
Não há solução de encontro
E eu que às vezes esqueço a alma em casa
Deixo o corpo massificar-se com os outros 
Gosto de parecer mais um qualquer
Gosto de não sentir o que quer que seja
Gosto de não antecipar o momento e a esperança
Gosto de esperar a dose e a medida
Que vão certas neste cesto de ilusões
A vida é uma maça envenenada
Com uma doce mordida no final.


domingo, 16 de junho de 2013

SINAIS DE TRÂNSITO CONTROLANDO MIL E UM CARROS ACELERADOS NA AUTOESTRADA DOS MESMOS DIAS INTERMINÁVEIS E INCONTÁVEIS A LUZES VERMELHAS E SINAIS SONOROS DE AVISOS EM VÃO PERANTE SOCIEDADE COLAPSADA ESVAZIADA E ESVENTRADA EM DROGAS CÍCLICAS E TRICÍCLICAS EM OVERDOSES DE DEPENDÊNCIA ESGOTADA POLUIÇÃO MIL VEZES POLUIÇÃO MIL VEZES ABOMINANDO TODAS AS DEPENDÊNCIAS HUMANAS ABOMINANDO ABOMINANDO ABOMINANDO TODOS AQUELES QUE SE TORNAM VEGETAIS DEBAIXO DE UM CIGARRO REPETIDO DE ERVA INCOERÊNCIA VICIADA 

segunda-feira, 4 de março de 2013

...só não vendo bem o que vem do futuro é que se consegue, ainda, ter uma espécie de sorriso...

sexta-feira, 1 de março de 2013

2 de março: Polvo à Lagareiro com batatas a murro!

O polvo tem tentáculos. Pegajosos. Infestos.
O polvo é mutante porque tem tentáculos e vive como se fosse um ser humano.
O polvo, contudo, não tem moral; não tem conduta político-social e é um criminoso altamente perigoso, escarrapachado num poiso altamente poderoso.
São vários os tentáculos do polvo. É só uma a cabeça do bicho. 
Os alvos dos seus tentáculos, ao serviço do que se passa nessa mente ambiciosa e faminta de poder, são os verdeiros seres humanos que são atacados violentamente pelos seus tentáculos.
O polvo diz que representa a nação desses seres humanos, mesmo que estes últimos se voltem contra os seus tentáculos de várias formas.
Os tentáculos do polvo calam vozes; controlam imagens; salvam os próprios tentáculos que podem estar em perigo de queda; castigam os seres humanos; vivem através dos seres humanos, à sua imagem e semelhança, através do jugo do medo.
O polvo mama nas tetas da Fortuna e esmaga os seres humanos debaixo do seu peso obeso e lascivo. Violentamente pornográfico na sua imoralidade.
Os tentáculos do polvo criam pequenas máfias entre si, e uns tentáculos encobrem os outros porque julgam que os seres humanos não sabem ver.
O polvo esquece-se que o ser humano não se esquece.
O polvo não pensa que abusar do ser humano, através da máscara de outro ser humano, trará, mais cedo ou mais tarde, uma nova "fogueira das vaidades".
O polvo, inebriado de poder, não vê onde coloca os tentáculos.

O ser humano, desta vez, no dia 2 de março também quer comer…polvo à Lagareiro! Com batatas a murro!!!

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Morte de Cassiel

Tenho a porta aberta
Ao desespero solitário de quem bate,
Toca e foge,
Sem deixar rasto na alma
E cicatriz no coração
O reino por detrás dessa porta
Reflecte-se numa miríade de objectos
Como se fossem vistos pelos olhos de um insecto
À luz crua da realidade.
Sem dar lugar seja ao sonho seja à razão
Os céus são quebrados por voos alucinados
De anjos obscuros
Que perderam a sua religião
A inocência tolda-lhes o olhar
E o peso do futuro pecado
Vai-lhes depenando as asas
As penas
Uma a uma
Caindo como neve escura ou cinzas obliteradas
Sobre a terra desse meu reino
Por detrás dessa porta aberta
Para quem passeia o desespero
A horas certas e pontuais
O porteiro sou eu
E a chave está em mim
Podem entrar

domingo, 17 de fevereiro de 2013

diz-me

Diz-me o que há em Casablanca?
Diz-me o que há em Istambul?
Diz-me o que há em Bombaim?
Diz-me o que há aqui?

domingo, 10 de fevereiro de 2013

...sem querer...

Não há mais nem menos do que a regra e as excepções nascem de uma lógica imperfeita que, mesmo assim, teima em subsistir. E a vida surge-nos como essa excepção, à tona da morte onde tudo o mais é perfeito porque tem início e tem fim. Teima em ser o desvio que se assume como a verdadeira directiva do ser vivo, vivenciando-a como a última água do deserto. Um acaso original que nasceu sem pecado; nasceu extraviado e tudo o mais são comportamentos manifestos dos sobreviventes aglutinados em torno de uma bolha de oxigénio.
No meio do nada, completamente belo, surgiu este impulso incoerente, totalmente incoerente, que assina, obliterando, a beleza da perfeição: o não-existir.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

É só uma caixa...


Dentro de uma caixa de papelão existia um vácuo enorme que não esperava ser preenchido por nada. Nada havia que o preenchesse. Mesmo que a caixa se revestisse do papel mais bonito entre todos, e dos laços mais fulgurantes, continuaria vazia à partida.
É que o "nada" nunca se consegue preencher de qualquer coisa, porém tem a fantástica habilidade de se disfarçar com qualquer roupagem.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

All I Need

foto de Susana Júlio

O Senhor Sombra, que veio de outro planeta, quando chegou ao nosso perdeu muito tempo à procura do seu corpo.
Vários problemas se lhe depararam: um deles é que todos os corpos lhe pareciam idênticos; outro dos problemas é que todos se vestiam de cinzento.
Para os habitantes deste planeta tal não era encarado como um problema, antes como um hábito.
E o Senhor Sombra não compreendia como é que aqueles corpos não viviam com contrastes.. Formou-se-lhe um nó na garganta que não tinha e esfarrapado de esperanças refugiou-se numa caverna que encontrou por acaso. Estava angustiado.
Lá dentro acotovelaram-se, sem cotovelos, outros Senhores Sombras desermanados dos seus corpos e todos juntos transformavam aquele local numa caverna de Babel. Nada fazia lógica.
O nosso Senhor Sombra decidiu deixar de procurar o seu corpo e, ao invés disso, do fundo da sua caverna, olhou para cima e encontrou o sol. Como Platão uma vez contara há muito tempo atrás.
O seu ser etéreo foi atravessado por miríades de raios de luz, partículas brilhantes de pó flutuante, arco-íris miniaturas de faz-de-conta e um sorriso nasceu-lhe na sombra do seu rosto.
Não olhou para trás quando deixou a caverna.
Assim que um semáforo abriu a luz verde para um mar de gente invadir as estradas negras da rua, o Senhor Sombra sentiu-se repescado como um peixe num anzol e quando olhou para o corpo que se movia da mesma forma que a dele, reparou que também este olhava para o sol.
Debaixo do braço, o Senhor Sombra e o seu corpo levavam um bloco de desenhos. O seu corpo era um estudante de artes e o que mais procurava no mundo cinzento era conseguir ter uma alma colorida para expressar nas telas brancas.

sábado, 19 de janeiro de 2013


Chegaste quase ontem"...
Nem cedo nem tarde
À Hora certa de quem nem abre a porta nem a fecha
Mas entreabre o destino com a chave na outra mão
Que a esconde atrás de si.
"Chegaste quase ontem"...
Quando hoje é já Passado
marcado nos caminhos assinalados
de mapas-guias do futuro:
as cores que brilham nestas palavras
são os códigos que despertam
todo o sentido original da Vida.
Assim, sim, chegaste.
foto por Susana Júlio