O Senhor Sombra, que veio de outro planeta, quando chegou ao nosso perdeu muito tempo à procura do seu corpo.
Vários problemas se lhe depararam: um deles é que todos os corpos lhe pareciam idênticos; outro dos problemas é que todos se vestiam de cinzento.
Para os habitantes deste planeta tal não era encarado como um problema, antes como um hábito.
E o Senhor Sombra não compreendia como é que aqueles corpos não viviam com contrastes.. Formou-se-lhe um nó na garganta que não tinha e esfarrapado de esperanças refugiou-se numa caverna que encontrou por acaso. Estava angustiado.
Lá dentro acotovelaram-se, sem cotovelos, outros Senhores Sombras desermanados dos seus corpos e todos juntos transformavam aquele local numa caverna de Babel. Nada fazia lógica.
O nosso Senhor Sombra decidiu deixar de procurar o seu corpo e, ao invés disso, do fundo da sua caverna, olhou para cima e encontrou o sol. Como Platão uma vez contara há muito tempo atrás.
O seu ser etéreo foi atravessado por miríades de raios de luz, partículas brilhantes de pó flutuante, arco-íris miniaturas de faz-de-conta e um sorriso nasceu-lhe na sombra do seu rosto.
Não olhou para trás quando deixou a caverna.
Assim que um semáforo abriu a luz verde para um mar de gente invadir as estradas negras da rua, o Senhor Sombra sentiu-se repescado como um peixe num anzol e quando olhou para o corpo que se movia da mesma forma que a dele, reparou que também este olhava para o sol.
Debaixo do braço, o Senhor Sombra e o seu corpo levavam um bloco de desenhos. O seu corpo era um estudante de artes e o que mais procurava no mundo cinzento era conseguir ter uma alma colorida para expressar nas telas brancas.
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