Estou à procura do vento num dia de quase Verão
Só para escutar a tua voz através da intemporalidade
A casa foi abandonada
A mesa está vazia
As cadeiras desocupadas
E os fantasmas que as habitam nenhum parece seres tu
Ficaste para além do espiritual e invisível
Assim como ficou o meu amor por ti
Como se fosse a imobilidade rígida de um rochedo
Sobre um oceano que nasce quando escrevo a palavra sal
Às penso penso que consigo escutar a tua voz de regresso
E despego-me da madrugada
Do árduo trabalho da construção de gestos exactos
Do verdadeiro sentido da palavra realidade
E a minha memória fica perfumada de jasmim
E o pressentimento da tua partida
Encosta-me às esquinas da vida de onde sinto que morreste longe do meu corpo
E, com força, acredito que enquanto não abrir de novo os olhos
Não partirás de certeza
Sim, o meu sonho agarra-se às velas que acendo à noite
E que perfuram o inquieto sono e a gestação de cicatrizes magoadas
Visita-me enquanto não envelheço mais do que estava naquela noite
Pára o tempo atrás
Mesmo que ele teime em escoar-se na música silente deste mar revolto de vida e de morte
Não te quero perder no sono das marítimas paisagens
Mesmo que a vigília mal consiga arrastar o etéreo peso dos ossos
E talvez seja possível partilhar uma outra vida
Quando nos reencontrarmos
Na derradeira travessia do Aqueronte
Mas agora vai e não demores mais
Caminharemos sempre juntos
Esquecidos da infelicidade daquele dia