que cai nas teclas brancas e negras
descobre a melodia mais suave
que as palavras podem tomar no caule de uma flor
No teu corpo adormecido
sobre a cauda desse piano
tocado gentilmente
pelas mãos de um artista.
Aquele a quem chamam de criador eterno
não sei se um deus ou a Natureza,
ela própria,
mas as mãos de quem dá a vida
e, ao mesmo tempo,
asfixia o seu testemunho
neste tempo e neste lugar.
Vi-te adormecendo descuidadamente
como se não existisse uma plateia
envergando máscaras de predadores
e como se essa mesma plateia
não fosse capaz de se mover do seu lugar
e tu dominasses a segurança
de ser o alvo sob os holofotes.
Arrastei a cadeira ruidosamente
só para te despertar.
Deixei-a cair, também.
Caminhei em direcção ao palco
e não senti os aplausos cairem sobre o meu rosto.
Sobre o meu corpo. Sobre o meu âmago.
Não senti nada a não ser a doce anestesia
substituindo a adrenalina do sangue.
Enquanto subia as escadas e tu me olhavas desde ontem
até agora
despi todo o passado da minha alma.
Despi a religião do Homem
e deitei-a, no teu lugar, onde outrora adormeceste.
Prefiro caminhar nua.
Na tua mão deixei o fogo ateado.
Deixei a destruição.
E quando olhei para trás
as cinzas que restavam
não chegavam sequer para lembrar o teu nome,
as tuas palavras, as tuas orações.
Da cruz aos pregos
restou nada.
2 comentários:
Nada é sempre algo
porque não há morte nem princípio
Às vezes o passado pura e simplesmente deixa de existir. Aguarda-nos outro palco: o do presente e futuro... :)
Beijinhos!
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