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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Não há maior feitiço do que a palavra.
Não há nada maior do que o ego encolhido dentro de um corpo mirrado.
Não há nada pior do que uma alma arrastada pelo quotidiano amarrotado de um bolso esquecido.
Não há nada mais grandioso do que gastar a vida no não saber viver para sempre enquanto a vida acontece a todo o momento.
Fuck society.



sábado, 15 de setembro de 2012

Trocam-se panos de misérias por corpos novos que vistam outros trapos e outras roupas deixadas ao abandono de lojas assombradas que pairam as suas portas abertas sobre as ruas molhadas de Inverno.
As receitas para se ser feliz já não são passadas porque deus demitiu-se do seu papel de médico, aliás, demitiu-se da sua própria criação e passou a ser apenas o empregado de balcão que serve o álcool para afundar as mágoas de quem passa pela vida. As pessoas acotovelam-se, moribundas, nas autoestradas que rasgam a existência até à última saída que é a morte.
Aqueles que seguem os desvios parece que encontraram a felicidade mas, logo a seguir, vêem-se de novo nessa autoestrada, a carpir as mágoas e os desesperos que se amontoam como os tais trapos de misérias.
Trocam-se...sim...como a água e o pão...como o sangue e como o corpo de um profeta qualquer que deixou palavras agora deturpadas que nem ecos são do que outrora foi dito.
 Sonhei com uma nova religião em que o Homem deixou de ser o centro individual de si mesmo e a Natureza passou a ser respeitada como a única força motora capaz de provocar desde a vida à morte o movimento e a paragem...a glória e o martírio. Sem passados nem futuros, sem projectos e sem abandonos, sem causas nem consequências. O que é...apenas é. Nada mais do que isso.
E o melhor nisto tudo...é saber que se pode fechar os olhos e fugir de si mesmo.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

...no sentir falta de mim mesma compartimentam-se gavetas vazias e descuradas onde o pó do rasto das palavras não se limpa, antes se acumula nas frinchas das frias ausências, das mãos que não voltaram, dos dedos que não tocaram, das letras que não se trocaram...
...sou um desenho de Dali de gavetas fechadas, armário descontente e contente, que se organiza no conforto do dia-a-dia, pessoa que não se vê enquanto a roupa molda a presença instável do ser.
...mas ala que se faz tarde...o caminho apresenta-se na frente emoldurada de dias melhores...porque os piores foram a tempestade que varreu a estabilidade desse ser...que secou as folhas dessa árvore, que arrancou as raízes da lógica e do sentido...e agora, apenas paira na sobrevivência diária como pena leve que nunca chega a cair...
Porque sabe que o chão é mesmo ali embaixo...

sábado, 28 de julho de 2012

?

ultrapassei os alicerces da vida e perdi-me em casa
onde habitavam vislumbres de arco-íris com finais felizes
reina o crepúsculo das últimas flores de enxofre
respirando o corpo intocável do medo
essa casa desfaz-se como uma catedral de loucura
em que todas as horas mantêm-se iguais
ao mesmo tempo que ignoro onde estou
por vezes, a memória doutros dias chega-me de imagens fixas
e desejo que a vida germinasse de repente
no zénite da noite
sorrateira e delirante
de modo a que todas as imagens se tornassem meros resíduos
visões longínquas de uma qualquer catástrofe
no entanto o que me segreda ao ouvido
é o quanto esta solidão está intacta
e a memória não me falha
quando corro os dedos sobre a lâmina de vidro quebrado
descolorido e assustado
pela precariedade da alegria
a paixão pelo sangue
e a sua fertilidade deste lado
e sinto que nada aprendi
enquanto tudo perdia
são estes os meus ofegantes momentos
enquanto a respiração sufocada da cidade
ataca a febre que começou em mim

domingo, 22 de julho de 2012

O Homem que caminha sozinho, quando desce ao inferno, encontra as várias salas, por onde passa, que sustêm outras vidas, acontecendo alienadas a essa mesma passagem.
O Homem entra num labirinto e essas salas passam a ser portas fechadas que limitam o dito caminho entre as meadas do inconsciente. Parece que conduzem. A estrada, que se faz andando, torna-o cego na sua demanda, porém pontual no seu passo. Não desiste porque o fogo que o alimenta é mais forte que o fogo desse inferno, cujas labaredas ardem negras no veludo da escuridão.
Mesmo no escuro, e nas noites sem fim, o seu sorriso triste acende-lhe a solidão das portas fechadas e ele deseja mais. O encontro consigo mesmo está marcado. Apenas não se recorda do seu verdadeiro rosto.
Foram muitas as máscaras que usou...foram muitas as vidas que não chegou a viver.
Mas o seu passo continua marcado. 
Atrás dele, sem o saber, as portas foram abrindo-se lentamente...quem o procura espera-o no seu regresso.

sábado, 14 de julho de 2012

THE FINAL CUT - PINK FLOYD



"Through the fish-eyed lens of tear stained eyes 
I can barely define the shape of this moment in time
And far from flying high in clear blue skies
I'm spiraling down to the hole in the ground where I hide.

If you negotiate the minefield in the drive
And beat the dogs and cheat the cold electronic eyes
And if you make it past the shotgun in the hall,
Dial the combination, open the priest hole
And if I'm in I'll tell you what's behind the wall.

There's a kid who had a big hallucination
Making love to girls in magazines.
He wonders if you're sleeping with your new found faith.
Could anybody love him
Or is it just a crazy dream?

And if I show you my dark side
Will you still hold me tonight?
And if I open my heart to you
And show you my weak side
What would you do?
Would you sell your story to Rolling Stone?
Would you take the children away
And leave me alone?
And smile in reassurance
As you whisper down the phone?
Would you send me packing?
Or would you take me home?

Thought I oughta bare my naked feelings,
Thought I oughta tear the curtain down.
I held the blade in trembling hands
Prepared to make it but just then the phone rang
I never had the nerve to make the final cut."

"Hello? Listen, I think I've got it. Okay, listen its a HaHa!"

terça-feira, 5 de junho de 2012

Estou à procura do vento num dia de quase Verão
Só para escutar a tua voz através da intemporalidade
A casa foi abandonada
A mesa está vazia
As cadeiras desocupadas 
E os fantasmas que as habitam nenhum parece seres tu
Ficaste para além do espiritual e invisível
Assim como ficou o meu amor por ti
Como se fosse a imobilidade rígida de um rochedo
Sobre um oceano que nasce quando escrevo a palavra sal
Às penso penso que consigo escutar a tua voz de regresso
E despego-me da madrugada
Do árduo trabalho da construção de gestos exactos
Do verdadeiro sentido da palavra realidade
E a minha memória fica perfumada de jasmim
E o pressentimento da tua partida
Encosta-me às esquinas da vida de onde sinto que morreste longe do meu corpo
E, com força, acredito que enquanto não abrir de novo os olhos
Não partirás de certeza
Sim, o meu sonho agarra-se às velas que acendo à noite
E que perfuram o inquieto sono e a gestação de cicatrizes magoadas
Visita-me enquanto não envelheço mais do que estava naquela noite
Pára o tempo atrás
Mesmo que ele teime em escoar-se na música silente deste mar revolto de vida e de morte
Não te quero perder no sono das marítimas paisagens
Mesmo que a vigília mal consiga arrastar o etéreo peso dos ossos
E talvez seja possível partilhar uma outra vida
Quando nos reencontrarmos
Na derradeira travessia do Aqueronte
Mas agora vai e não demores mais
Caminharemos sempre juntos
Esquecidos da infelicidade daquele dia



quinta-feira, 31 de maio de 2012

...o corpo pousa como cinza nas raízes de uma cruz que não se vê, apenas existe...

sexta-feira, 25 de maio de 2012

A propósito de um sorriso


Após fechar a sua loja de brinquedos, Gustavo Armador percorria sempre as mesmas ruas da calçada lisboeta que formava os padrões elípticos tão bem conhecidos por ele. Tinha vontade de ser a criança que visitava a sua loja durante o dia de trabalho e percorrer esse mesmo caminho, curvando a sua vida nessas linhas escuras que marcavam as pedras brancas no chão. Mas pensava na sua idade e aquela criança que visitava a sua loja regressava para o mais recôndito da parte detrás do balcão da sua alma.
Como anoitecia depressa, o seu passo acelerava, acompanhando o cair da noite, enquanto ele próprio caía na percepção de mais um final de dia em que regressava a uma casa vazia de outros sem ser de si. Da janela da sua sala via a vida iluminada a néon lá fora e as pessoas que passavam pareciam ser sempre felizes, pelo menos mais do que ele, visto que pareciam percorrer aquela mesma calçada com um propósito qualquer. Não se teriam os deuses esquecido de si? Aos cinquenta anos de idade, solteiro, solitário, a sua única distracção era o seu suposto trabalho, que era mais do que isso: um ofício. Lembrava o velho Geppetto na construção dos seus bonecos e outros brinquedos de madeira...mas nunca encontrara um Pinóquio. A sua falta de perspectiva nunca lhe permitira encontrar tal ser, por mais imaginário que fosse.
O seu último trabalho era a base de um pequeno balão de ar. Desgastado da madeira de carvalho e gravado pela lâmina astuta da sua antiga navalha, a parte final seria apenas a pintura. A corda branca, o pano azul e os fios de cobre estavam já preparados e colocados de parte para serem acrescentados à base de madeira. Um pequeno camarão penduraria o topo do balão em qualquer superfície pronta a receber a sua última criação.
Todos os seus brinquedos eram de vários tipos de madeira e ao canto da loja, enquanto não entravam clientes ou simples "turistas da fantasia", amontoavam-se aparas de madeira, aparas de sonhos, que procuravam a perfeição de um novo ser.
Gustavo recebia os seus clientes, geralmente crianças acompanhadas pelos respectivos adultos, com muitos bons modos, mas no seu rosto parecia nunca ter sido gravado um sorriso. Ultimamente, vendia mais os seus brinquedos visto que estava na moda voltar aos brinquedos didácticos de madeira...e como as modas são coisas de irem e de virem, neste momento o seu negócio corria bem... Gustavo preferiria que se lhe chamasse ofício se estivesse a ler neste preciso momento. Mas como as vidas paralelas do narrador não se cruzam com as suas personagens, Gustavo não sabe que o seu ofício fora chamado de negócio.
Saberia em breve outra coisa...mais adiante.
Como em muitas histórias, um deus ex machina surgiu ao virar da esquina, calcorreando as pedras da calçada e prostrou-se à frente da vitrina da loja de brinquedos de Gustavo. Não fora de propósito...aliás, Salvador Amoreira era uma criança que nunca passara por aqueles lados de Lisboa. Chamou-lhe a atenção um pequeno saco que voava ao sabor do vento e pôs-se em sua perseguição e quando ele desapareceu na esquina daquele prédio antigo, os seus olhos apaixonaram-se pela vitrina da loja de Gustavo e o saco desaparecera da face da terra. O seu olhar saltava do pião antigo de madeira, já com a linha enrolada, às pequenas marionetas, que mais pareciam ter sido retiradas de um espectáculo de circo. Os barcos em miniatura e os comboios coloridos sem trilhos terminados. Já imaginava os seus dedos a dar vida às almas ocas daqueles bonecos e a sua imaginação já vestia a vida dos mesmos com histórias mirabolantes. Colou as palmas das mãos à montra e, a partir dessa manhã, passou a executar este gesto diariamente sem ser necessário um saco mirabolante a voar à sua frente. Admirava Gustavo a trabalhar nas suas pequenas peças de madeira e sentia, de vez em quando, o olhar daquele senhor de cara fechada, sobre si mesmo como se o interrogasse o que é que ele estava a fazer ali fora colado ao vidro. Mas Salvador não tinha coragem de entrar naquela loja de sonhos imóveis, mesmo que o seu coração palpitasse o suficiente para o espicaçar um pouco mais...e, assim, a cada dia que passava as suas mãos deslizavam pelo vidro até que tocou parte da moldura da porta de entrada da loja. Dali a entrar era só um passinho...e sabia que Gustavo já o conhecia...mas como nunca lhe vira uma coisa à qual estava tão habituado, sentiu uma espécie de estranheza: o sorriso. Gustavo nunca lhe sorrira e os adultos costumam sorrir a todas as crianças. Como criança que era e se prezava, era comum dirigirem-lhe diversos sorrisos, não só pelo seu ar matreiro como também pela sua aparente polidez mas verdadeira boa educação.
Voltando a Gustavo...
Quem seria aquele miúdo de olhos negros como os círculos da pedra da calçada que o tentava a percorrer como se fosse de novo uma criança? Todos as manhãs passava por ali, e namorava os seus brinquedos de longe, como se fossem pequenos tesouros fechados num museu. E como se ele próprio fosse o curador desse museu. Por que motivo não entraria esse menino? Tantas vezes por ali adentro lhe entraram diversas crianças de sopetão, só para admirarem mais de perto as suas pequenas obras. Estranho...muito estranho.
O balão estava terminado e só faltava pendurar do tecto da sua loja. Tinha uma pequena vela no fundo, que acesa não interferiria com o tecido do resto do balão nem com as cordas, sequer com as amarras de cobre.
Foi buscar umas escadas, de madeira como não podia deixar de ser, e pendurou-se o mais esticado possível para alcançar o camarão que já tinha colocado no tecto de modo a pendurar o seu mais recente brinquedo. E no preciso momento em que estava quase a pendurar o balão deixou de ver. A cegueira não era nem branca nem preta...não tinha definição e, assim sendo, por definição, era algo que o transcendia no momento da sua queda. Não havia asas de anjo que o suportassem nem fios de corda ou de cobre que o suspendessem. Nesse momento, Salvador entrou de rompante na loja e deu a mão a Gustavo para o ajudar a levantar-se...este último não conseguia ver ainda, mas sabia que era o menino da vitrina, só não sabia o seu nome.
- Era só mais um degrau nesta escada e o senhor conseguia chegar lá... - dissera Salvador.
Gustavo, ainda de mão dada a Salvador, começou a retomar a sua visão. Percebeu que tinha ido buscar as escadas mais pequenas em vez das maiores e tudo começa por um princípio...cada coisa está ajustada a outra coisa. Escolhera apenas as escadas erradas...mas a sua visão voltara.
O menino ajudou Gustavo a equilibrar-se sobre o peso do seu corpo e, num instante, as linhas de ambas as mãos deixaram-se de se tocar, apesar de já terem sido traçadas.
- És um bom menino. Muito obrigado por me teres vindo ajudar...como é mesmo o teu nome?
- Salvador...e sou um menino como os outros todos que passam por aqui...os seus brinquedos é que são diferentes, todos, uns dos outros...
Gustavo estava admirado com a resposta daquele menino de olhar negro como a noite e achou que ele é que era diferente das outras crianças que por ali entravam.
- Sabes, Salvador, falta uma coisa a este balão: um nome...queres ser tu a dar-me essa honra?
Salvador olhava do balão caído no chão para os olhos azuis e sérios de Gustavo, meio envergonhado. Ambos eram semelhantes numa coisa: caiam...o olhar e o balão pareciam ambos caídos no chão da vida sem nunca terem sido erguidos.
- Eu troco um nome por um sorriso seu. - disse, corajosamente, Salvador, meio encolhido entre a parede do seu corpo e a esquina da sua alma.
Gustavo, que nunca esperaria por uma resposta destas, mais do que um sorriso, deu uma gargalhada que lhe fez bater o coração mais depressa e ver os brinquedos da sua loja como eles eram de facto: diferentes. De repente, todos eles lhe lembravam o Pinóquio animado da velha história infantil! Ficou admirado consigo próprio. De tal modo ficou admirado que as lágrimas subiram-lhe ao andar de cima dos seus olhos.
- O senhor está a sentir-se bem? - perguntou Salvador, entre a confusão da gargalhada e do súbito marejar nos olhos revoltos de Gustavo.
- Salvador...tu tens um nome muito bonito. E por detrás dele a beleza ainda é maior.
Salvador, cruzou os pés, olhando o chão envernizado à maneira antiga...
- Eu já tenho mais do que tinha pedido: mais do que um sorriso ganhei uma gargalhada...agora falta a minha parte...gostava que o nome desse balão fosse o meu: Salvador.
Gustavo voltaria a tocar a sua linha da vida com a linha da vida de Salvador, pois nesse momento estendeu-lhe a mão e selaram um compromisso, que aos olhos de ambos, lhes parecia muito importante.
- Pois Salvador será... - e Gustavo sorriu.
O balão foi pendurado no dia seguinte, com o nome pintado com letras vermelhas a sangue vivo. Salvador visitava todas as manhãs Gustavo, e começou a aprender a amar um ofício. Gustavo aprendeu a sorrir e esperava todas as manhãs por Salvador, à mesma hora, como quem estava prestes a receber um presente.
E sabem como é que Gustavo fechava a loja ao anoitecer?
Duas voltas na tranca da porta, após cerrar os estores da vitrina e quando se centrava na calçada da rua, saltitava sobre as linhas negras e circulares dispostas na calçada lisboeta...isto...a propósito de um sorriso.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

hoje quase acordei do lado errado da alma e quando despertei, por instantes, estava oca por dentro

quinta-feira, 17 de maio de 2012


O teu riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera , amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

...havia um viajante que caminhava só à beira da estrada, no limite entre o passeio e o concreto, entre a loucura e a razão...de rosto virado para baixo, caminhava e só parava para apanhar as pedras que encontrava na linha do seu caminho...o saco que transportava pesava mais do que todos os seus pensamentos e as dores atrozes que lhe curvavam a coluna deixavam a sua angústia de rastos...um dia, quando deixou de olhar para o chão saiu da beira da estrada parou no passeio caíram-lhe as pedras no chão e as suas pernas tornaram-se raízes enquanto o seu pensamento floresceu...tinha descoberto o sol...

quinta-feira, 3 de maio de 2012

"Se tu queres um amigo,
cativa-me! 
Que é preciso fazer? perguntou o principezinho. 
É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe
de mim,  assim,  na  relva.  Eu  te olharei  com o canto do olho e  tu não dirás nada.  A
linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto ... 
No dia seguinte o principezinho voltou. 
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo,
às   quatro   da   tarde,   desde   as   três   eu   começarei   a   ser   feliz.  Quanto  mais   a  hora   for
chegando,  mais eu me sentirei  feliz.  Às quatro horas,  então,  estarei  inquieta e agitada:
descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a
hora de preparar o coração ... É preciso ritos. 
- Que é um rito? perguntou o principezinho. 
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa, É o que faz com que um
dia seja diferente dos outros dias; uma hora,  das outras horas."


...do eterno livro O Principezinho...
Hoje adormeci sobre a noite envolvendo-me nos sonhos aos quais não tenho direito e tapei-me com a miséria de uma alma arruinada. Por dentro, os pássaros dos céus negros caem mortos nos extremos do arco-íris...é que a chuva sem fim, mesmo não parando, deixava entrever o sol fulminante para todos os Ícaros ambiciosos que cruzavam esses mesmos céus.
Hoje, quando adormeci, os sonhos aos quais não tenho direito choraram tempos infinitos as lembranças do porvir e moldaram os seus corpos efémeros aos seus gémeos de oposição, os pesadelos, tornando-se o mesmo barro informe moldado por mãos omnipotentes e cruéis, dispostas a atirar esses sonhos ao chão que todos pisam.
Hoje, não adormeci, pois o meu corpo, apesar de deitado, tinha os olhos abertos para a suposta alma e as luzes amareladas que se acendiam mostraram os cantos arruinados dessa casa que já fora, outrora, uma casa de bonecas.
Hoje, se adormeci, não dei conta que as horas marcaram o seu percurso pois os minutos e os segundos deixaram tatuagens na minha pele, deixaram marcas a ferro e fogo demorado, enquanto queimava o tempo numa caixa de fósforos.
Hoje vou adormecer mais uma noite nas mãos do destino que se chama Eu e vou deixar o meu coração nas mãos a quem pertence...se o amarrotar e deitar fora, tanto me faz, não precisarei dele...se o guardar e acarinhar, tudo me fará, pois será o motivo pelo qual o sono chegará descansado como se fosse uma pequena princesa.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

São as cortinas que anunciam o final do espectáculo e os aplausos encerram mais um dia de vitória sobre a vida. A sobrevivência em estado latente aproxima-se das saídas de emergência que fogem, divergentes, para longe daqui.
Enquanto houver um palco em cima desta vida, a peça será sempre a mesma...só quero encontrar as escadas e descer até ao público e observar a vida passar de outra forma.
E que os aplausos sejam meus.

sábado, 17 de março de 2012

Toda a vida que sopro em jeito de expiração já não regressa com a mesma validade na qual se inspirou.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Mini pseudo-crónica de fim-de-semana.

Gostava de saber como adormecem os "nossos" políticos, à noite, ou de madrugada, ou de manhã, ou de tarde, ou seja lá quando for que se deitam...pois adormecidos creio que o andam desde há muitos anos. A sério...gostava de saber se o peso das suas ações corresponde ao peso que deixa a marca na almofada ao outro dia quando acordam...porque deixam marca de cada vez que se levantam decisões no nosso país; pobre almofada, tão cedo não trocada ou lavada.
Em toda a minha inocência e "leiguice" nos assuntos de política, compreendo que governar um país seja um caso extremamente complicado e árduo, mesmo que este nosso país à beira-mar plantado seja apenas um retângulozinho no final (ou no início, dependendo da perspetiva de quem entra!) da Europa. Acredito que as suas mangas, das suas camisas Armani, e afins, seja arregaçadas nas duras reuniões e Consílios de pseudo-deuses menores, e algumas bagadas de suor desfaçam a máscara de serena descontração, semi-rosa, semi-laranja, semi-indefinida.
Lamento imenso que os nossos políticos, por sua vez, também se lamentem dos seus magros ordenados, porque como o exemplo vem de cima, nós que também sofremos do mesmo mal ("ligeiramente" agravado umas centenas de vezes "para baixo"), acabamos por ter que nos lamentar e esta "pescadinha de rabo na boca" não termina a não ser com o rótulo de pieguices.
O nosso país passa a imagem de lenço (não dos namorados, que está aí quase a bater à porta no seu dia altamente americanizado) de assoar e de limpar as eternas lágrimas à custa do esforço de apertar o cinto.

Compreendo que os Bancos tenham de ser auxiliados, em termos de verbas financeiras, pois são eles que guardam os nossos parcos haveres e, supostamente, por sua vez, auxiliam os que mais precisam em horas de aperto, qual Robin dos Bosques engravatado. Compreendo que existam imensas instituições e fundações com o eterno apoio do Estado (Estado esse que reconhece não saber, na verdade, a totalidade dessas mesmas fundações para quem dá dinheiros públicos...entenda-se...o nosso!) pois cheia de boa vontade está o ser humano na defesa das suas causas, nem que seja a da piscina maior na vivenda, a frota de carros novo marca "xpto" e "job`s for the boys".
Sofro imenso com o sofrimento com que este governo se auto-promove no seu pedido de ajuda ao povo que já não tem mais nada para oferecer, para além do suor das suas camisas compradas, provavelmente, nas feiras aos fins-de-semana (enquanto ainda existirem fins-de-semana para comprar camisas e outros acessórios).
Os nossos administradores são um exemplo de ingenuidade perante outros assistentes do governo de outros países europeus que mandam os sem-abrigo ficarem em casa. Nós ainda temos, de facto, as casas, mas as tabuletas de "Vende-se" e "Aluga-se" prolifera, por todo o lado, a olhos vistos, de cada vez que se põe o nariz fora de casa, enfrentando o frio siberiano que parece congelar tudo, até o nosso poder de lucidez das coisas.
Pode haver quem pense que eu estou a ser irónica com estas minhas palavras (moi?!)...mas a verdade, é que amanhã vou estar em Lisboa na manifestação para dar voz ao grito do povo.