Saio de mim como quem tem um encontro. Visto a alma de roupa nova e lavada. Palavras perfumadas e delicadas. Olhos sorrindo para além da conta do dizível. Cabelo solto, apanhando as estrelas pelo caminho e à medida que a noite desce sobre mim. À luz alva da lua recolho os fragmentos que fui deixando de mim, lançados e abandonados durante o dia. Estilhaços quotidianos que usamos como armas ou como escudos. Conforme o corpo que tivermos pela frente. Junto esses bocados como peças de um puzzle infinito e insano. Espero que a lógica me venha buscar e me dê a dose certa de dedos e de mãos para os colar. Nos lugares certos e nos momentos correctos. É tudo a mesma coisa! Raio de mania de catalogar!
Estendo-me ao comprido sobre o texto formado e espalho, ainda, algumas letras soltas que se recusam em encaixar. Querem outros significados e outras páginas onde se deitar…ser da mesma pele quente, acariciada pelas mãos dos amantes que se tocam antes do sonho chegar. Cedo ao desejo e coloco-as nas suas vontades como se fosse assim desde o início dos tempos: dos delas e do meu. Eu que fujo do tempo como o diabo da cruz…é o que diz a sábia voz do povo. É o que diz a minha consciência.
Saio de mim apressada. Vida ao ombro, bem apertada. Não quero que ma levem assim sem mais nem menos. É só esta a que tenho: sou muito poupada. Olho em frente, sempre em frente. Não interessa o que ficou para trás. Sigo sempre aquele sinal de luz verde que me avisa para ultrapassar o que não quero ao meu lado. Ainda não sei quem liga esses sinais, nos intermitentes reguladores dos nossos passos, em qualquer direcção. Ainda não descobri quem pinta as passadeiras que agora piso, sem pensar, como se fossem as frases certas sobre as linhas tortas.
Saio como muitos outros saem, e se cruzam à beira da extinção da solidão aparente. Abraçamo-nos a nós mesmos, cuidadosos para não sentir o peso leve da ausência e demoramo-nos no prazer do toque para compensar o pensamento mais célere sobre a verdade da situação.
Cá dentro parece que chove. Abro o guarda-chuva e amparo as emoções. Escorrem delicadamente pelos cantos da minha alma, e com calma, enovelam-se na acção da minha existência. Sorrio. Facilmente assim sorrio.
Cheguei.
Chegámos.
A vida pode ser uma autêntica festa nesta sala comum que partilhamos.
Estendo-me ao comprido sobre o texto formado e espalho, ainda, algumas letras soltas que se recusam em encaixar. Querem outros significados e outras páginas onde se deitar…ser da mesma pele quente, acariciada pelas mãos dos amantes que se tocam antes do sonho chegar. Cedo ao desejo e coloco-as nas suas vontades como se fosse assim desde o início dos tempos: dos delas e do meu. Eu que fujo do tempo como o diabo da cruz…é o que diz a sábia voz do povo. É o que diz a minha consciência.
Saio de mim apressada. Vida ao ombro, bem apertada. Não quero que ma levem assim sem mais nem menos. É só esta a que tenho: sou muito poupada. Olho em frente, sempre em frente. Não interessa o que ficou para trás. Sigo sempre aquele sinal de luz verde que me avisa para ultrapassar o que não quero ao meu lado. Ainda não sei quem liga esses sinais, nos intermitentes reguladores dos nossos passos, em qualquer direcção. Ainda não descobri quem pinta as passadeiras que agora piso, sem pensar, como se fossem as frases certas sobre as linhas tortas.
Saio como muitos outros saem, e se cruzam à beira da extinção da solidão aparente. Abraçamo-nos a nós mesmos, cuidadosos para não sentir o peso leve da ausência e demoramo-nos no prazer do toque para compensar o pensamento mais célere sobre a verdade da situação.
Cá dentro parece que chove. Abro o guarda-chuva e amparo as emoções. Escorrem delicadamente pelos cantos da minha alma, e com calma, enovelam-se na acção da minha existência. Sorrio. Facilmente assim sorrio.
Cheguei.
Chegámos.
A vida pode ser uma autêntica festa nesta sala comum que partilhamos.
Sugestão musical: ROYKSOPP com o álbum "Melody A.M."
8 comentários:
E sabe tão bem sairmos de nós próprios, com tempo para olhar as estrelas, a lua e o mundo que nos rodeia... E sonhar, porque não?
Excelente texto, SU!
Jinhos!
sem palavras su, pela beleza da tua escrita!!! sinceramente, não sei como é possível alguém escrever desta forma tão verdadeira e tão deslumbrante ao mesmo tempo... faço uma vénia do tamanho do mundo às tuas palavras...
em relação às minhas palavritas, digo-te uma coisa...adoro vestir-me de sorriso. é o meu preferido, SORRISO!!!
há dias felizes, em que me visto de sorrisos...
felizmente são cada vez mais e falta muito pouco para que sejam mesmo quase todos (e aqui abro um parentisis só para os dias em que estou com dor de dentes ;))
vestir a alma de roupa lavada... pode haver coisa mais deliciosa???
(como vês, ainda não fui nanar, amanhã estou tramada, mas perco-me em mais cinco minutos, só mais cinco...
beijo grande, querida, sabor a "lençois lavados"
Sai de ti, em pontas... em bicos dos dedos dos pés... silenciosamente para não te apeceberes da ausência de ti própria... deixa a alma flutuar livre sem o peso permanente da razão... fosse a razão tão leve que fosse capaz de acompanhar a alma enquanto flutua...
O cabelo da alma captura temporariamente a energia das estrelas para si, quando a alma voa solta em vestes que lhe dão liberdade...
A noite é tempo de recolher e juntar tudo... nao choremos os pedaços, juntemo-los e constatemos a beleza da nova construção...
Armas e escudos são por vezes necessários, foram eles que fizeram do nosso mundo aquilo que ele é; talvez pudéssmos contudo mudar-lhes a expressão, torná-los menos ofensivos, mais subtis...
A lógica que cola os pedaços nos sítios certos... é a lógica do bom senso e do amor...
Tranquiliza as letras e as palavras rebeldes que não se querem aquietar no texto que lhes preparaste e que querem partir rumo a outras paragens... deixa ficar as que querem ficar e deixa partir as que querem partir... se forem auficientemente fortes, corajosas e determinadas, vencerão o tempo e o esquecimento e voltarão quando o texto perfeito para elas estiver a nascer...
O tempo parece tirano, mas não é... tirano é quem no-lo rouba... o tempo é precioso e cada minuto deve ser aproveitado como se fosse o último...
Valerá a pena poupar na vida? Esta é a única de que nos recordamos... pudéssemos nós recordar todas as milhentas que temos...
Cuidado ao seguir em frente sem olhar para trás... por vezes para trás ficam as pistas que permitem edificar algo novo com a devida sustentação... tu ligas os teus sinais, mas não te lembras de quando o fizeste... ultrapassa o que não queres e deixa-o para trás... talvez compreendendo porque o não queres... para isso precisas apenas compreender quem és tu...
Quem quer que pinte as passadeiras, tu sem que te lembres ou outrém, pinta apenas as entrelinhas das tuas linhas tortas, aquelas que poderias viver se vivesses de maneira mais pobre e sem interesse. Quem precisa de segentos de recta quando pode ter arabescos de art nouveau?
A chegada é doce, pois traz a iluminação consigo... é fácil assim sorrir... mas não deixemos que a dificuldade do que passamos aquando da escuridão, nos leve o sorriso... pensemos que a passagem pela escuidão é essencial para a chegada...
Belíssimo pedaço de prosa poética. Gosto de te imaginar vestida de sorrisos, pelas ruas por onde passas.
Beijos grandes.
Às vezes, temos mesmo necessidade de sair para fora de nós mesmos. Amei o texto su! Tens mesmo o dom da palavra...
Essa necessidade se faz cada vez mais presente em mim.
Texto maravilhoso!Continue!
Um beijo minha querida!
É porque às vezes sentimos todo o poder maravilhoso da vida como um céu sem nuvens e a sua luz planta-se em nós como um vestido novo e lindo, acabado de comprar e o sorriso é o nosso lado vaidoso! :))
Em busca do alter ego perfeito. Não, melhor mudar para em busca do alter ego possível. Mas, possível com liberdade plena, alma lavada, de cabelo solto e capaz de recolher os fragmentos de si própria lançados e deixados durante o dia.
Excelente, Su, é um dos seus melhores. Lembre-se, continuo fã, cliente e freguês.
Um beijo!
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