Ontem adormeci sobre uma almofada de pesadelos e quando acordei ainda estava sobre ela. De nada valeram as páginas agradáveis das vidas dos outros, em que tudo o que parece só acontecer a eles serve de lenitivo para as nossas próprias mágoas. Entre cada vírgula ou cada ponto final espreitava o caos do dia a seguir… e de mais outro, e mais outro e por aí fora. Ontem usei chapéu e gabardine enquanto caminhava sob uma intempérie de sobressaltos, pequenos tornados sísmicos que partiam de dentro de mim. Tempestades anatómicas de passos lentos ao mesmo tempo que o quotidiano assumia velocidades fora de série. Fiquei parada a meio da passadeira mesmo com o sinal vermelho para mim. Ontem enquanto acordava no início do dia morria um pouco mais relativamente ao amanhã. Parece que fazia sol lá fora e a pele que envergo arrepiava-se de deleite em choque com a tormenta nascida dentro de mim. Estava presa ao medo de saber que o Agora, de então, era o único momento que conhecia.Ontem vivi ao contrário deitando os ramos às raízes e fazendo nascer de mim os frutos debaixo de terra. Risquei o céu que me devorava em palavras com formas de grades e de chaves…sem fechaduras. A inutilidade de conhecer-se as soluções é a doença dos que não querem agir. E hoje, quando acordei, ainda estava plantada ali.
...elipse...
5 comentários:
Talvez seja necessária muita "peregrinação", para se entender que a vida se leva ao ritmo de um dia de cada vez...
Sem fantasmas passados ou futuros, enraizados sabe-se lá onde! A "plantação" não é evidente, a não ser que se semeie, pretendendo ou não colher. Ponto de vista subjectivo, evidentemente!
Abração, amiga!
teté: ...muita peregrinação e muita aceitação...uma armadura por dentro e por fora...
O "sabe-se" lá onde deixa aparecer os fantasmas de todos os lados...
Beijo!
Que texto lindo de se ler.
Triste, mas real.
Brincas com as palavras e teces teias especiais que nos deixam presos.
Beijinhos
Olá Su,
O tempo na teia tem um rendilhado de pérolas mistura de gotas de orvalho com luz se sonho… Será que sempre o a cor dar ao abrir a janela para o minuto seguinte… re pousar os fios… em silêncio no colo da canção…
Beijinhos das nuvens
"Parece que fazia sol lá fora e a pele que envergo arrepiava-se de deleite em choque com a tormenta nascida dentro de mim."
Ás vezes sinto como se tivesse um turbilhão preso dentro do meu corpo.
O verso acima, descreve bem essa sensação.
Beijos mil, Su e bom carnaval!!!
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