Mais do que pó de estrelas, somos os raios que se escapam delas mesmo após o seu colapso e brilhamos, para além da fronteira destes corpos, milhares de anos após, em ecos fundados em sangue e matéria.
Mais do que as origens, importa saber que somos o Aqui e o Agora, Disto e Daquilo, entre o sabor de um beijo e o de uma lágrima, o Sal e o Doce, à beira do choro e da gargalhada...as bases da sanidade e da loucura num interminável jogo de equilibrismo sem se querer.Mais do que os fantasmas do futuro projectados por entre sonhos e expectativas, somos o que somos, o que nos foi permitido ser , por entre páginas imensas de ADN´s e de pseudo-destinos divinizados, como desculpa de sermos apenas humanos. Mais do que o sonho e o pesadelo, somos o húmus do seu corpo e ditamos a sua orientação desde as raízes a que nos agarramos; e ascendemos ou curvamo-nos, conforme a disposição dos ramos que sustentam ou os céus ou os infernos, ou os limbos ou os purgatórios...ou somente a doença e a realidade.Mais do que as fórmulas secretas de um Arquitecto maior, chame-se Tempo, chame-se Deus, chame-se Natureza ou o que se quiser, somos a prova viva de que construimos, resistimos, destruimos porém existimos.Mais do que um sono prolongado para além da verdade, corre-nos sangue desde o coração até qualquer ponto do nosso corpo e se estamos vivos neste mesmo Momento foi para isto que "fomos feitos"... por entre o caos e a ordem, por entre a mente e o trabalho das nossas mãos transformamos a matéria em LUZ....e "só devemos parar...quando terminarmos"...
Ontem (27 de Junho) o Solar dos Zagallos Sobreda, Almada) acolheu a Festa no Solar - saberes, sabores e memórias, em homenagem comemorativa da chegada dos Europeus às Américas, um momento histórico que marcou a descoberta de novas tradições, cores e paladares. Através deste mote da História Contemporânea, os jardins do Solar receberam inúmeros visitantes, numa verdadeira viagem ao século XIX, onde foi possível experimentar uma sensação única de multiculturalidade.
Começamos bem o dia numa saudação ao sol, através de uma aula de ioga desde as nove às dez e meia.Depois deste momento, uns (como eu) fomos experimentar o atelier de pinturas corporais em henna ("O corpo como tela"), com a artista Fátima Zahara.Outros foram para a Hora do Conto (Os mil e um contos de Sherazade). A cafetaria da festa estava aberta na Cozinha do Solar, assim como as exposições relacionadas com os azulejos (O Artesão Pintor de Azulejos).Também com fotografias de José Guimarães e Marionetas Vicentinas do Atelier Primavera 09. Noutros pontos do jardim decorriam: Baby Ioga; Chi-Kung; Caligrafia Árabe; um atelier de construção de objectos em couro (Bolsas, pulseiras e atilhos); um atelier de pintura livre (Pinturas ao Vento); um atelier de fabrico de perfumes, óleos e cremes a partir de essências naturais (Per-fumum, através do fumo).Um atelier de modelagem de lamparinas em barro (Olaria do deserto) e um atelier de pintura em azulejo com a técnica de corda seca e aresta (Al-zulej Árabe).As tendas árabes marcavam o ambiente com a venda dos seus produtos mais típicos.Eu trouxe incenso e uns brincos trabalhados; e uma pessoa muito querida ofereceu-me uma mão de fátima (porta-chaves) com uma "proteção" especial! :)Durante todo o dia decorreram jogos tradiconais assim como as diversas tendinhas de artesanato, gastronomia e do comércio justo.Houve momentos de música, com os alunos da Academia de Música de Almada; um concerto de Guitolão pelas mãos de António Eustáquio; um workshop de Danças Orientais, por Rute Maluna e ao final da tarde podemos assistir às Danças do Ventre por esta mestra e suas alunas.Esta festa foi encerrada com um concerto AL - FARABI (um grupo de músicos e bailarinas, cujo reportório transportou-nos para um verdadeiro ambiente exótico e sedutor do universo árabe).Nos dias 4 e 5 de Julho poderão visitar aFeira da Terra(Seixal), que irá ter "palestras, oficinas, aulas, exposições, demonstrações, visitas guiadas, animações e espectáculos, e vão estar presentes na Quinta da Fidalga empresas, indivíduos ou associações que apresentarão produtos, serviços e ideias, bem como as suas vantagens para o consumidor e para o meio ambiente." Para além disso, poderão usufruir de palestras sobre Reiki (Terapias de Desenvolvimento Humano - Associação Campus de Reiki) ou aulas gratuitas de Hatha Yoga e Yoga do Riso.
Ontem assistimos a um filme americano que não parecia americano. Se para alguns isto não é a melhor das introduções, ou apresentação deste filme, é melhor parar de ler o post por aqui!
De facto, este filme, Two Lovers (que irá ter a tradução de "Duplo Amor" ou "Amantes", com data de estreia prevista para o próximo mês) esteve nomeado para a Palma de Ouro, no Festival de Cannes do ano passado. Com uma magnífica realização de James Gray, é baseado numa história de Dostoevsky: "White Nights". Tem todos os ingredientes típicos de um filme europeu, e quase naturalmente não damos conta de que a acção decorre, na íntegra, em Nova York.
Os planos de realização, muitas vezes, são autênticas fotografias que jogam sublimemente com as sombras, os contornos dos corpos e os contra-luz, ao mesmo tempo que a acção é engrandecida com os excelentes diálogos derivados de um igualmente excelente argumento, que faz ressuscitar o género do romance cinematográfico. A sensibilidade é como que capturada em diversos e únicos enquadramentos digitais.
Assim sendo, e resumidamente, temos Leonard (Joaquin Phoenix) que vive em casa dos pais e trabalha no negócio da lavandaria da família. Leonard saira, há uns anos atrás, de um noivado desastroso, que o levou a descobrir que é doente bipolar, com todas as consequências deste género de doença (tentativas de suicídio, auto-flagelação). Os dias na sua vida sucediam-se uns após os outros, sem qualquer género de "cor" até que surge Michelle (Gwyneth Paltrow), a sua nova vizinha. Entretanto, os seus pais apresentam a Leonard um casal amigo e a sua filha, Sandra (Vinessa Shaw). Rapidamente, Leonard deixa-se envolver com Sandra querendo, no entanto, envolver-se com Michelle. O argumento vai girar em torno destas personagens:Leonard, um rapaz que quer voltar a acreditar, furiosamente, no amor, e que ao depositar essa crença, algo obsessiva em Michelle, liberta o seu EU mais onírico, sonhador, um pouco adolescente.Michelle é a vizinha que sofre de uma espécie de hiperactividade; mantém uma relação com um homem casado e procura em Leonard o irmão ou o confidente que não tem. Sandra é o ponto de apoio ou refúgio de uma vida que poderá vir a ser perfeita ou estável para Leonard, e é apaixonada por este último. Ninguém morre de amor, no entanto, assistimos a "partos difíceis" no soberbo desempenho destes actores, enquanto entregam a sua alma ao desempenho dos seus papéis. E não podemos deixar de sentir a carga emocional que deriva de cada um deles, os conflitos que nascem e as esperanças que acompanham o espírito de sacrifício.
Não avanço mais na história...apenas deixo entreaberta a possibilidade de irem assistir a um grande filme, que pelo que se ouve dizer, contém a última participação cinematográfica de Joaquin Phoenix (infelizmente!).
Procurem nos planos soltos as frases sentidas, os símbolos, as imagens, a poesia e os duplos significados...de certeza que aí saberão do que estou a falar.
Lembro-me você dizia: "para ser feliz, terá que comer em minhas mãos." Então, passei a comer em seu prato naquele sepulcro dividimos as refeições aproveitei os restos repartir com os ratos amanheci com um pires na mão... Hoje, morrer de fome é o bastante para ser feliz nas águas sagradas da solidão onde mergulho de cara...
(ilustração de outro poema: "Síndromes")
in VAGA LUMES de Luciano Fraga
com capa, contra-capa e ilustrações de Ruela
Há uns tempos atrás recebi este livro em casa, oferecido pelo Ruela ( o grande artista digital do blog http://neoartes.blogspot.com/ - visitem-no!). Andei a "saltitar" pelos poemas e pelas ilustrações, e agora de caminho de leitura completamente feito, partilho convosco um dos poemas. Pequenas partes que nos podem parecer o Tudo ou o Todo (como preferirem!).
Somos resistentes à passagem do Tempo Que nos devora o pó das células à margem do erro da mutação Somos resistentes às palavras Que nos varrem, inconscientemente, para os quatro cantos do dia-a-dia Somos resistentes à raça humana Que nos mostra o que fomos e o que seremos dentro desta História Somos resistentes na guerra Que se acumula nas pregas da pele, do corpo e dos órgãos e que se veste de doença Somos resistentes ao esquecimento Que nos devora na tristeza encolhida de uma alma menor Somos resistentes à dor Que nos tempera as articulações da mente com lembretes de que sabemos sentir Somos resistentes às lágrimas e aos risos Que nos adormecem e nos acordam sucessivamente em doses certas Somos resistentes à vida Que nos lembra de todo o objectivo da nossa caminhada quando deixamos pegadas
Até somos resistentes à morte Que nos assalta sem qualquer arma a não ser o seu nome próprio E nós saímos da nossa sombra e dizemos que não temos medo.