Há quem diga que hoje se "encerram as portas" ao Natal, arrumando as decorações da época nos cantos escondidos onde permanecem por mais um ano, à espera do fulgor da próxima festividade. Gosto tanto destas decorações tão acolhedoras e brilhantes que lamento sempre este acto de arrumação (não que tenha alguma coisa contra as arrumações!).
Contudo, hoje é Dia dos Reis e, tradicionalmente, seria hoje que se trocavam as prendas, elaboravam-se doces e pratos típicos e conviviam, de novo, as famílias. Ainda há quem o faça e este seja o momento alto destas festividades.
Quem são estes Três Reis (para além daquelas figurinhas de barro pintadas que serpenteiam nos nossos presépios...ou o nome do daquele excelente filme de 1999, no qual entra, entre outros, o George Clooney..."What else?")?!
Há uma descrição feita por São Beda, o Venerável (673-735), que no seu tratado “Excerpta et Colletanea” assim relata: “Melchior era velho de setenta anos, de cabelos e barbas brancas, tendo partido de Ur, terra dos Caldeus. Gaspar era moço, de vinte anos, robusto e partira de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio. E Baltasar era mouro, de barba cerrada e com quarenta anos, partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz”. Quanto a seus nomes, Gaspar significa “Aquele que vai inspeccionar”, Melquior quer dizer: “Meu Rei é Luz”, e Baltazar se traduz por “Deus manifesta o Rei”. Como se pretendia dizer que representavam os reis de todo o mundo, representando as três raças humanas existentes, em idades diferentes. Assim, Melquior entregou-Lhe ouro (presente próprio de um rei) em reconhecimento da realeza; Gaspar, incenso (sinal de espiritualidade) em reconhecimento da divindade; e Baltazar, mirra (sinal de imortalidade) em reconhecimento da humanidade. A exegese vê na chegada dos reis magos o cumprimento da profecia contida no Livro dos Salmos (Sl. 71, 11): “Os reis de toda a terra hão de adorá-Lo”.
Supõe-se que os seus restos mortais estão numa urna de ouro, na Catedral de Colônia, na Alemanha.
E o quarto Rei Mago?! Conheciam?!
Segundo uma antiga tradição cristã e em alguns textos primitivos e apócrifos, existia um quarto Rei Mago: Taor. Michel Tournier fala da história deste Taor no seu belíssimo livro: "Gaspar, Melchior e Baltasar". Taor era príncipe de Mangalore. Também viu a estrela e acreditou na importância dela. Tal como os outros três reis magos, armou um imponente séquito, abandonando o seu reino, para se prostrar perante o novo rei que ia nascer, e dar-lhe a sua melhor oferta. Porém, devido a diversas fatalidades, Taor desviou-se do caminho apontado pela estrela. Durante anos e anos vagueou pela Palestina e, um a um, foi perdendo todos os seus sinais de realeza, assim como todo o seu séquito. Taor fica só, sem companhia, sem roupa a não ser aquela do corpo, sem dinheiro a não ser uma única moeda de ouro que prova a sua existência, realeza e identidade, visto que tinha a sua efígie. Taor só não perdeu a sua crença de que ainda ia a tempo de adorar o novo Rei, e isso fê-lo continuar na sua demanda por Jesus. Por fim, até sem a sua moeda fica. Renunciando a tudo, visto que nada lhe sobrava para oferecer, renuncia verdadeiramente a si mesmo...passando a ser a sua oferta ele próprio. Continuou a sua peregrinação, foi feito prisioneiro nas minas de sal (perto da outrora Sodoma). Depois é libertado, passados muitos anos, quando já não era mais do que um vagabundo de si mesmo, um "homem transparente". Porém, a sua busca continuou e, ao fim de 33 anos, na altura da Páscoa dos judeus, ouve dizer que Jesus estava em Jerusalém. Taor chega lá na noite da Pessach, arrastando-se, e dizem-lhe que Jesus estava estava com os seus numa casa de José de Arimateia. Taor, ansioso, dirige-se para a dita casa.
Ficamos agora com o epílogo do aconselhável livro de Michel Tournier:
" A sala estava vazia. Uma vez mais chegava demasiado tarde. Tinha-se comido naquela sala. Havia ainda treze recipientes e em alguns deles um fundo de vinho tinto. Em cima da mesa viam-se fragmentos de pão ázimo. Taor sentiu então uma vertigem: pão e vinho! Estendeu a mão para um copo e ergueu-o até aos lábios. Depois amassou um fragmento de pão e comeu-o. Então vacilou mas não chegou a cair. Os dois anjos que velavam por ele desde as minas de sal acolheram-no nas suas asas e levaram aquele que, depois de ter sido o último, o perpétuo retardatário, acabara por ser o primeiro a receber a eucaristia."
Taor, o quarto Rei Mago, fez a oferta, inconsciente, de si mesmo...entregou o seu coração e alimentou a sua fé, a um novo rei, que nunca viu ou ouviu. Terá sido o primeiro homem que, mesmo sem conhecer a Palavra de Cristo, viveu em/ e por nome Dele.
FELIZ DIA DOS REIS.
Ofereço-vos o meu sorriso embrulhado em fios da Teia.
13 comentários:
Não conhecia, nem sequer imaginava que existisse um quarto rei Mago.
Obrigada pela partilha.
Aprisionei teu sorriso
deixo o meu...
Sereno sorrisos
Olá Su, as coisas que aprendo contigo...é uma delicia ler-te...
E a viagem começa
Sem rumo nem distância
Serei timoneiro de alva barca
Pelo rumo da tua lembrança
Mar de sonhos mil
Oceano de tanta contradição
A ternura invade o caminho
Que leva ao teu coração
Bom domingo
Doce beijo
hum...estamos sempre a aprender! Não sabia esta história!
Obrigada!
Mais uma vez, em sintonia... Estava para escrever sobre os Três Reis Magos, num sentido inverso ao teu, que deviam ser encarados como lenda... pois não há provas que realmente existiram! Ou seja, não constam em enciclopédias, na Wikipédia aparecem várias versões, cada uma mais fantasiosa do que a outra, em que não se sabe quantos eram, nem deviam ser reis, a probabilidade era de serem sábios ou astrónomos, nem nos nomes há concordância...
Mas como figuras lendárias, em que alguns acreditam piamente, são personagens bastante simbólicas e fascinantes... Adorei esse Taor e a sua demanda, história que não conhecia... Estamos sempre a aprender aqui, nos fios desta Teia!
Um grande sorriso para ti!
Estas festas terminaram e agora só mesmo para o final deste ano!
Su, lindinha, a coincidência é só mesmo no mês e no signo, pois o dia é diferente. Eu faço um dia depois de ti. :p
Beijos
Olá Su!
Tu és demais mesmo!
:)
Bjs
feliz dia dos reis ...sempre a aprender :)
Já passou o dia,mas os desejos não cessam.Tudo de bom pra ti!!!!!
Ah! E que aula hein?!
:)))))
Quarto rei mago?! Não fazia a mínima ideia!!! Quanto às arrumações, também já as fiz :) A Gaia não queria que eu tirasse a árvore de lá :D
Beijos.
Essa do quarto rei não sabia...
Essa do quarto rei não sabia...
Oh! Que delicia, nunca tinha ouvido falar, que coisa fantástica!:)
Mimos e obrigada pela aula, adorei!!!
Uma história interessante, querida Su, esta resumida por você, do livro de Michel Tournier, além de um final tocante e criativo, principalmente para aqueles possuidores da fé cristã.
Nós, seus leitores, por certo nos tornamos um pouco mais sábios após a leitura dos seus posts.
Andei viajando e não pude visitá-la antes, mas, agora, estou colocando a leitura (obrigatória) em dia.
Beijos!
Enviar um comentário